quarta-feira, setembro 30, 2009

O Piolho Caolho

Um dia chegou à cidade, em uma manhã bem quente, uma turma de piolhos que era de arrepiar. A mamãe Piolhina vinha de muito longe, do outro lado do país, e no lombo de um cavalo veio parar bem aqui do lado com os seus filhinhos: Catulo, Caneco, Caxoxo e Caolho.

Catulo era o mais velho, um piolhinho esperto e que sempre arranjava as melhores cabeleiras sem nunca ser pego.

Depois vinha o Caneco, que era meio maluco, mas rápido como ele só.

O Caxoxo era o terceiro e vivia morrendo de sono, sempre com preguiça de sair pra arranjar um bom cabelo pra morar.

E o caçulinha, o menorzinho de todos era o Caolho. O Caolho era bem pequenininho, muito novinho e ainda enxergava mal, coitadinho. Todo mundo cuidava bem dele, mas o Caolho já estava ficando chateado.

- Poxa, ninguém nunca me deixa fazer nada. Qualquer dia desses eu saio por aí e vou me virar sozinho.

Assim que chegaram, cada um foi para um lado pra arranjar a casa nova. Logo, logo, o Catulo apareceu com a novidade.

- Achei a cabelândia perfeita pra gente morar. É bem pretinha, bem cheia e, pelo jeito, já faz um bom tempo que não vê xampu.

A turma dos piolhos então foi correndo pra cabeça que o Catulo tinha achado, mas assim que eles chegaram o Caolho fez uma careta e foi logo dizendo:

- Ah não, ah não, ah não! Que cheiro horrível! Tá certo que a gente gosta de cabelo sujo, mas esse aqui tá demais. Olha, tá tão ensebado que eu já escorreguei duas vezes!

O Catulo não gostou nada daquilo, justo o Caolho reclamando de um lugar que ele achou? Que absurdo! Mas o resto da família reparou bem e todo mundo concordou que aquele lugar ali era sujo demais até mesmo pra piolhos. Eles saíram rapidinho dali e foram achar outro lugar.

O Caneco, rápido como ele só, logo voltou com a notícia.

- Achei! Achei! Esse lugar é maravilhoso, turma. Venham! Venham!

Todo mundo logo foi atrás do Caneco e acabaram chegando em uma cabeça que parecia ideal. Cabelos castanhos, nem muito suja e nem muito limpa, tudo certinho. Quando todo mundo já estava se ajeitando pra ficar por ali, o Caolho começou:

- Ah não, ah não, ah não! Olha só isso aqui, essa casa tá quase sem telhado no meio. Depois daquele topete lá na frente, aqui é quase sem cobertura. Com esse sol a gente vai ficar todo queimado e eu nem trouxe protetor solar.

O Caneco fez uma cara ruim, mas não demorou muito pra todo mundo perceber que aquela escolha ali não tinha sido boa. Com tão pouco cabelo, além de ficarem muito à vista de quem quisesse achá-los, eles ainda corriam o risco de pegar uma insolação.

E lá se foram todos atrás de um novo lar.

Passou-se um bom tempo e o Caxoxo chegou bocejando, todo moleirão.

- Ei, pessoal, eu acho que esse lugar é legal. Vocês querem dar uma olhada?

Bem devagar, lá se foram eles, o Caxoxo na frente e o resto da família atrás. Quando viu a dona da casa que o Caxoxo estava sugerindo, o Caolho começou a gritar antes mesmo de subir:

- Ah não, ah não, ah não! Gente, o cabelo dessa mulher é duro que nem pedra. Imagina todo mundo lá, descansando, sossegado e de repente ela joga um jato de laquê na gente! Foi assim que o tio Cafunfo ficou doido, lembram?

Dessa vez todo mundo concordou e nem o Caxoxo achou ruim. Só de lembrarem do tio Cafunfo maluquinho por causa do laquê, eles nem subiram.

Quando já iam começar a procurar de novo o Catulo falou:

- E você, Caolho, só reclama, só reclama, quando é que vai achar uma casa boa pra gente?

- É mesmo – concordou o Caneco – até agora você não ajudou em nada.

- Se eu não estivesse tão cansado ia aí te dar uns cascudos – completou o Caxoxo.

A mamãe então logo saiu em defesa do seu caçula.

- Meninos, meninos, parem de implicar com o pobre do Caolhinho. Ele é o menorzinho, ora bolas.

Mas na verdade, a mamãe nem precisava ter defendido o Caolho. É que mesmo sendo pequenininho ele era muito corajoso, estufou o peito e respondeu bem firme.

- Pois vocês podem ficar vagabundeando por aí. Até o final do dia eu volto com o lugar perfeito pra gente morar, viu? Podem ter certeza!

E lá se foi o nosso herói atrás de uma casa melhor para a sua família. Mesmo sem enxergar direito, o Caolho avistou lá de longe um cabeludo daqueles bem cabeludos mesmo. Ou seria uma cabeluda? O Caolho não sabia, mas nem quis esperar e foi conhecer o terreno.

Subiu correndo até lá em cima e já estava todo feliz, imaginando a festa que ia fazer naquela cabeleira toda quando esbarrou em um outro bicho.

- Ei, olhe por onde anda – disse o inseto nervoso.

- Desculpe, é que eu estava com pressa e não enxergo muito bem. Se eu soubesse que outro piolho já era dono dessa cabeça eu nem tinha vindo. Desculpe mesmo.

- Piolho? Cabeça? Eu sou uma formiga, menino, muito respeito! E isso aqui não é cabeça nenhuma, é uma samambaia, você não está vendo?

Foi só aí que o coitado do Caolho percebeu que tinha mesmo se enganado. Limpou a terra das patinhas e lá se foi atrás de outro lugar pra morar.

Um pouco mais à frente, na porta de uma loja, ele viu uma figura alta, de cabelo espetadinho.

- Opa, aquele ali é soldado. Deve passar dias no meio do mato, aquele ar puro, a natureza em volta. Que beleza!

Lá se foi o Caolho, todo animadinho, conhecer de perto a casa nova. Chegou lá em cima e já estava procurando o melhor lugar pra ficar quando, de repente, tudo virou de cabeça pra baixo e o soldado começou a esfregar a cabeça no chão com a maior força.

- Uma vassoura! Ai, ai, ai que confusão, deixa eu sair daqui!

E o Caolho saiu correndo pra não morrer varrido. Ele já estava desanimado, quase desistindo, quando viu, em uma janela, uma cabeleira de cachos bem grandes. Foi saltando até lá e mergulhou de cabeça.

- Oba! Agora eu vou me dar bem!

Caiu em um lugar macio, fofinho e foi ficando enrolado, enrolado até descobrir que era um grande bolo de novelos de lã. Pra sair dali foi um custo e o Caolho ficou tão triste que sentou na beiradinha da janela e começou a chorar.

Um cachorro que passava por ali ouviu o chorinho, forçou a vista e conseguiu enxergar o Caolho no beiral da janela.

- Ei, piolhinho, por que você está chorando?

- Eu e minha família estamos sem casa. Já procurei cabelo por cabelo dessa cidade e nem unzinho serve. E pra piorar, eu não enxergo direito e sempre entro em confusão.

- Calma, calma. Quem sabe a gente encontra uma solução juntos?

Os dois então pensaram, pensaram, conversaram, conversaram e tiveram uma grande idéia.

A mamãe Piolhina e o resto da família tomaram um susto quando viram aquele cachorrão correndo na direção deles, mas logo ouviram a vozinha do Caolho dizendo:

- Ei, pessoal, esse aqui é o meu amigo Tuti.

- Tuti!?

- É, ele me viu chorando e veio conversar comigo. Nós tivemos uma idéia genial!

- Idéia!?!?

- Isso. Agora nós vamos morar numa casa móvel.

- Casa móvel!?!?!?

O Tuti e o Caolho começaram a rir e então explicaram a idéia deles. A família ia passar o dia no meio dos pelos do Tuti, no maior conforto e sem se preocupar com nada. E aí, quando achassem uma cabeleira legal, pulavam pra lá, enchiam a barriguinha e voltavam.

- É perfeito, disso o Caolho. O Tuti não precisa mais ficar sozinho e a gente não precisa mais ficar nessa correria atrás de casa.

É claro que todo mundo adorou a idéia. E daquele dia em diante, a família dos piolhos ficou sempre junta, com casa pra morar e jantando fora todo dia.

E o Caolho, mesmo pequenininho e mesmo sem enxergar bem, virou o piolho mais famoso da história piolhística por causa de sua idéia brilhante.




Direto na têmpora: All Revved Up With No Place To Go - Meat Loaf

terça-feira, setembro 29, 2009

WTF!?

Para quem não sabe, WTF é a sigla que representa, principalmente na web, a expressão "What the fuck". A sigla é usada para expressar choque, surpresa ou incredulidade diante de fotos, sites, comentários, vídeos, histórias, enfim, qualquer coisa que demande uma boa dose de "putaqueopariu" pela sua absurdância. Em bom português, a tradução seria algo próximo de "Que porra é essa?".

Enquanto isso, em Wisconsin, o órgão responsável pelo turismo do estado mudou seu nome de Wisconsin Tourism Federation (WTF) para Tourism Federation of Wisconsin (TFW). O motivo? Não há mais separação entre o mundo virtual e o real.

As pessoas buscavam o turismo em Wisconsin, encontravam WTF e as pessoas que buscavam situações WTF chegavam ao turismo de Wisconsin. O resultado é um campo aberto para hackers, pranksters, um número ilimitado de chacotas e brincadeiras que acabavam por afetar, na prática, as pretensões e a reputação da instituição de Wisconsin.

O que as pessoas consideram "virtual" é a cada dia mais real e impacta mais verdadeiramente o nosso cotidiano. Não somos usuários da internet, somos pessoas em cujas vidas a internet tem um papel tão prático e verificavelmente importante quanto uma calçada ou via de trânsito.

Incrivelmente bom para algumas coisas e terrivelmente ruim para outras, mas acredite, essa distância entre os dois mundos é cada vez mais a exceção. Embora nada substitua o contato físico, a troca de olhares, o contato real com um produto, existe uma extensão para estes sentidos e que está aí para ser explorada.

Explorar ou não é decisão de cada um. Para mim, a internet exponencializa o alcance de nossas opiniões, as conexões de nossas afinidades, as fronteiras do nosso conhecimento e as possibilidades da nossa criatividade. É real como um braço de cadeira ou um copo de café.

Essa é a minha opinião. Qual é a sua?




Direto na têmpora: Butterfly Nets - Bishop Allen

segunda-feira, setembro 28, 2009

A night at the Opera

Marcus Barão me presenteou com os convites e resolvi levar a minha Sophia para assistir a ópera "A Menina das Nuvens", de Villa-Lobos.

Não satisfeito com a temeridade de colocar uma criança de 3 anos para enfrentar 3 horas de ópera de um compositor não necessariamente "fácil", chamei o Tomás, coleguinha e paixão platônica dela.

Foi uma surpresa. No primeiro ato, um show de educação e interesse dos dois. No intervalo, Tomás mesmo gostando pediu para ir embora e Sophia não quis arredar pé. Ficou até o final, encantada, levantou-se, aplaudiu e gritou "bravo".

Se puxar à avó, quem sabe daqui a alguns anos ela volta à ópera como participante?


Teve ópera bacana no final de semana.




Teve momento princesa depois do cinema no final de semana.




Teve até minhoca da horta do Clic no final de semana.




Direto na têmpora: While You Wait for the Others - Grizzly Bear

sexta-feira, setembro 25, 2009

Por trás de um sorriso

Em 2010 teremos eleições para Presidente, Governador, Senador, Deputado Federal e Deputado Estadual. Eu adoro trabalhar com marketing político, mas não devo participar do pleito próximo.

O primeiro motivo é que as dificuldades de recebimento e o declínio dos valores pagos aos profissionais realmente desestimula quem trabalha com seriedade.

O segundo motivo é que eleições estaduais e federais normalmente empregam um número menor de pessoas e consequentemente as oportunidades diminuem.

O terceiro motivo é que, estando bem aqui na Tom, não há porque largar para fazer a campanha.

De qualquer forma, espero trabalhar novamente com marketing político, inclusive porque vejo cada vez mais gente fazendo as mesmas fórmulas ou tentando ser apenas criativoso, sem se preocupar em explorar bem pontos de contato, oportunidades e linguagens para se falar com os vários públicos que compõem uma base de apoio.

Já participei de campanhas políticas que entenderam que o mundo mudou. A maioria, no entanto, vai continuar confiando em filmes requentados, discursos-padrão e confiando no desempenho do candidato quase que exclusivamente como caminho para o resultado positivo.

Enfim, já que o assunto é marketing político. Esse aí abaixo sim, tem motivos para sorrir.



Barack Obama's amazingly consistent smile from Eric Spiegelman on Vimeo.






Direto na têmpora: Prometemos não chorar - Barros de Alencar

Convalescença é o cazzo

No dia 3 de setembro fiz uma homenagem ao meu amigo Paulinho, que passava por uma difícil situação de saúde.

Hoje, graças a Deus, ele já está em casa, cercado da família, recebendo amigos e se recuperando bem, mas pouco antes disso, o filho da mãe quase me mata de susto.

Estava no trabalho quando o celular toca. Era uma ligação do filho do Paulinho, meu também amigo Diogo. Atendo esperando boas notícias e, do outro lado da linha, ouço um choro descontrolado, que tenta dizer algo e não consegue.

- Diogo, Diogo! O que aconteceu, cara, fala comigo! Diogo!


Quando já estava certo de que o pior tinha acontecido, outra pessoa entra na linha morrendo de rir. Era o Diogo, todo simpaticão explicando:

- Ô, Maurilo, era meu pai. Ele ficou emocionado com o seu texto e queria agradecer, mas não consegue parar de chorar.

- Putaqueopariu, Diogo, ele mata do coração.

- Ah, e ele mandou falar que o Tomás, meu filho, vai pegar a Sophia.


Esse é o Paulinho convalescente. De volta e bem, ainda bem.




Direto na têmpora: Let it shine - Al Green

quinta-feira, setembro 24, 2009

Mais uma dela

Eu sei que os 12 condenados (pessoas que leem este blog) já devem estar de saco cheio de historinhas da minha Sophia, mas vai aí mais uma.

- Como chama o seu amigo, papai?

- Rubinho.

- E o filho dele?

- Artur.

- E a mamãe do Artur?

- A mamãe dele chama Paula e ele tem uma irmã chamada Ritinha.

- É Ritinha ou é Rita que ela chama?

- Rita, mas todo mundo chama de Ritinha. Lembra do Popó, aquele palhaço que a gente encontrou no Parque das Mangabeiras uma vez? Ele é o pai da Ritinha.

- Ela é palhacinha?





Direto na têmpora: I'm through - Three Shades of Gray

Reconhecimento é reconhecimento

Estava flanando pelo Bairro dos Funcionários há poucos momentos quando me emocionei com uma bela homenagem recebida.

Não sou um homem que vai às lágrimas facilmente, mas confesso que foi tocante ver, no parabrisa de um veículo, o reconhecimento de toda a população de Curvelo à minha pessoa.

Valeu mesmo, povo curvelense, eu também não esqueço vocês. Só fica mesmo a dica de que a grafia é correta é Maurilo, valeu? Beijocas e até mais.







Direto na têmpora: Blue turning grey - Clap Your Hands Say Yeah

quarta-feira, setembro 23, 2009

Verde ou cozida

- Papai, hoje no caminho da natação tinha jabuticaba, mas eu não comi, porque ela tava verde. Não tava cozida ainda.




Direto na têmpora: Fans - Kings of Leon

terça-feira, setembro 22, 2009

Mudando de profissão

Amigos, cheguei a um ponto da vida em que descobri a medida exata da minha incompetência. Sendo assim, vou abandonar a propaganda, o bloguismo e a literatura para escrever títulos de matérias policiais para o jornal Meia Hora. Deus me dê talento.







Direto na têmpora: Both hands - Ani DiFranco

Mais Monty Python para o mundo

Pise em ovos para falar sobre religião.

Pise em ovos para falar sobre educação.

Pise em ovos para falar sobre opção sexual.

Pise em ovos para falar sobre vida sexual.

Pise em ovos para falar sobre ecologia.

Pise em ovos para falar sobre família.

Pise em ovos para falar sobre menores de rua.

Pise em ovos para falar sobre tráfico de drogas.

Pise em ovos para falar sobre futebol.

Pise em ovos para falar sobre crenças políticas.

Pise em ovos para falar sobre o governo.

Pise em ovos para falar sobre a oposição.

Pise em ovos para gostar de uma propaganda.

Pise em ovos para detestar uma propaganda.

Pise em ovos para falar sobre obesidade.

Pise em ovos para falar sobre pobreza.

Pise em ovos para falar sobre gagueira, espinhas ou seios pequenos.

Pise em ovos para concordar.

Pise em ovos para discordar.

Pise em ovos para dizer o que pensa.

Pise em ovos para falar com quem você confia.

Pise em ovos para falar com quem você mal conhece.

Pise em ovos para não achar importante.

Pise em ovos para dar muita importância.

Pise em ovos para não achar graça nenhuma.

Pise em ovos para rir.

Definitivamente, o que o mundo precisa é de uma boa dose de Monty Python.




Direto na têmpora: I'll beleieve in anything - Wolf Parade

segunda-feira, setembro 21, 2009

Quase lá

O "quase" me angustia bastante. Os minutos logo antes da apresentação do trabalho, os instantes finais do jogo, o momento que antecede o sim (ou o não).

Não fui feito para esperar. E quando as coisas se acumulam no aguardo de respostas, tento fingir não ver, mesmo não adiantando.

É a verba que não chega para os projetos já aprovados, é o projeto que é bacana e ainda não foi apresentado, são as idéias que falta colocar no papel (ou no Word) é o que falta tempo para formatar e viabilizar, enfim, é coisa pra caramba.

Quando a hora chega o problema desaparece e, dando certo ou não, eu consigo lidar com uma certa tranquilidade com o fato. Meu problema mesmo é o quase-fato.

Agora, se tem uma espera com a qual eu tenho uma dificuldade enorme de conviver é aquela que antecede a entrega de presentes. Eu compro com antecedência e depois fico chocando aquilo, louco pra entregar para quem merece.

Vem logo, 12 de outubro, porque aquela caixa com a bicicletinha da Sophia já está começando a me tirar o sono.




Direto na têmpora: Do ya - Electric Light Orchestra

Sophia ataca novamente

Minha Sophia dançando "balé" na casa da tia Renata e a família toda elogiando.

- Nossa, mas ela é uma bailarina.

- Parece a Ana Botafogo.

- É, é a Sophia Botafogo.

E ela emburrando na hora.

- Eu não sou Botafogo, eu sou Galo!


__//__


- Olha, papai, que casa legal!

- Quer tirar uma foto lá, Sophia?

- Quero, a casa parece um cotovelo, né?




__//__


Estava com a família na Maison Almeida Lage e a anfitriã Carmita Almeida nos ofereceu deliciosas ameixas frescas colhidas por seus serviçais.

- Sophia, papai adorava ameixa. Sabe o que eu fazia? Pulava o muro, subia no pé e comia um montão na casa do meu vizinho.

- É mesmo?

- É, e sabe que outra fruta o papai vivia correndo atrás?

- Qual?

- Amora.

- Ela ficava fugindo de você?

E ainda achou ruim quando todo mundo riu.




Direto na têmpora: Fistful Of Sand - The Bravery

sexta-feira, setembro 18, 2009

Distorcer para convencer

Eu hoje escrevi um post sobre os saudáveis chatos, sobre os ecochatos, sobre os antitabagistas chatos, sobre os geeks e viciados em redes sociais chatos, sobre os publicitários-apaixonados-por-prêmios chatos.

Eu reli o que tinha escrito e descobri que eu tenho cada vez mais horror aos extremos, desde o presidente ultracatólico americano até o terrorista ultramulçumano, ambos usando deuses, a religião e a fé como desculpas para atingir outros objetivos.

A grande maioria dos extremistas são especializados nisso: distorcer para convencer. Justificam seus métodos em nome da causa e condenam todo o resto sumariamente. Dificilmente aceitam contra-argumentos ou conseguem enxergar as coisas de um ponto de vista mais amplo.

Sua verdade é A verdade. O direito dos outros termina onde começa o ponto-de-vista deles e por aí vai.

Não sei se é coincidência, mas quanto mais politicamente correto o mundo, mais proliferam esses extremistas (muitos deles de boutique). E eu, sinceramente, ando muito sem saco pra essas coisas.

PS - O outro texto ficou longo e, preciso admitir, demasiado agressivo. Por isso não postei. Afinal, em um mundo tão politicamente correto, é perigos ser incorreto demais.




Direto na têmpora: Don't look back - Fine Young Cannibals

quinta-feira, setembro 17, 2009

Inovadorzinho

Poucas palavras são tão repetidas hoje quanto inovação. O "foco em inovação" de hoje é para mim apenas uma versão do "foco em resultados" de alguns dias atrás. Em 98,89% dos casos é discurso, apenas algo que se diz para que todos concordem, sintam-se bem e sigam fazendo as mesmas coisas com as mesmas velhas fórmulas.

Para ser inovador não basta fazer simplesmente o que não tem cara de velho. Não basta fazer algo diferente, legalzinho e que não se sustenta ou não se aplica. Isso é fazer novidade, não é fazer inovação.

A verdade é que nem sempre é preciso ser inovador ou genial. É perfeitamente normal e aceitável que uma empresa, pessoa, organização ou governo exerça suas funções com eficiência simplesmente executando muito bem o "feijão com arroz".

O que me incomoda na verdade é a adoção da postura inovadora sem a prática inovadora. Prefiro um Mauro Silva que se assume Mauro Silva a um Ronaldão que se anuncia Romário (Se você é novinho, pesquise sobre a Copa de 94. Se você quiser entender melhor a amplitude do vocábulo Mauro Silva, pergunte ao meu amigo Leo Oliveira).

Outra coisa que é preciso levar em conta é que não basta ser apaixonado por inovação para tornar-se inovador. É um ótimo começo, mas não funciona como causa e consequência. É como imaginar que basta ser apaixonado por livros para escrever como Camus.

De onde eu vejo, a inovação está ligada a três princípios básicos: compreender profundamente o problema; não se preocupar em como esse problema já foi solucionado por A, B ou C e entender que as objeções/problemas/críticas não devem ser ignorados e tampouco simplesmente obedecidos, mas sim analisados e resolvidos. Se uma solução inovadora depende de uma ferramenta que ainda não existe, invente-se a ferramenta.

Para finalizar o meu pitaco, ser inovador não é apenas pensar grande (é possível e altamente desejável ser inovador também nas pequenas questões), mas essencialmente pensar com a liberdade de quem não quer apenas resolver um problema, mas fazê-lo da melhor maneira possível.




Direto na têmpora: Tomato in the rain - Kaiser Chiefs

Absurdos e verdades

A verdade e o absurdo são coisas que se equiparam. Somente o absurdo toca as pessoas como a verdade e somente a verdade pode ser chocante como o absurdo.

Meu amigo BC desenvolveu, lá pelos idos de 88/89, a ofensa perfeita contra motoristas idosos: maconheiro. Velhinho fez cagada no trânsito, o BC berrava pela janela "Maconheeeeeiroooooo" e já percebia o outro transtornado.

Para o idoso em questão, além da percepção de que maconheiros, genocidas e estupradores pertencem ao mesmo grupo, ficava a dor do absurdo da ofensa. "Eu, aposentado, bom pai, bom avô, eu? Maconheiro?"

O outro lado da moeda foi quando estudava em Ipatinga e alguns alunos resolveram pichar o muro da escola. Além dos palavrões tradicionais, tinha uma pichação que era absolutamente verdadeira e que por isso mesmo se destacava entre as outras. Referindo-se a uma das educadoras, o texto dizia: "A Fulana de Tal tem bigode".

E tinha.




Direto na têmpora: Soft - Kings of Leon

quarta-feira, setembro 16, 2009

The boy from the 80s

Sim, eu usei New Wave Glitter Gel só na lateral do cabelo.

Sim, eu tinha tênis Redley bicolor (verde e cinza).

Sim, eu tomei Keep Cooler.

Sim, eu comprava vinis de forma compulsiva na Rei do Disco em Ipatinga; na Cogumelo e na Cotec em BH.

Sim, eu já usei calça OP e tinha uma bermuda verde limão.

Sim, eu usei daquelas sapatilhas chinesas pretas com uma sola fininha e que soltavam fácil, fácil.

Sim, eu era fã do The Cure e usei sobretudo mesmo morando em uma cidade onde 36 graus à noite era algo absolutamente normal.

Sim, eu comia mais de uma Mastiguinha por dia, comprava Yakult no carrinho e sei que brinquedo era o Kuru Kuru (Kuru Kuru, bicho engraçado, mas tome cuidado... Kuru Kuru é um bicho muito louco).

E você? Viveu os anos 80 também?



Tirado do site Memory Chips.




Direto na têmpora: Details Of The War - Clap Your Hands Say Yeah

terça-feira, setembro 15, 2009

Os nomes das coisas

Sabe aquele bonequinho símbolo da Vivo? A Sophia chama de Muzileia.

Sabe cavalinho de pau com cabeça de tecido? A Sophia batizou o dela de Haucy.

Sabe a Bela Adormecida? A Sophia só chama de Dômela.

Sabe o Tom Waits? A Sophia cismou que o nome dele é Finkle.

Sabe a música "Underground" do Fink... digo, do Tom Waits? Pra Sophia é a Música Malvada do Coelhinho.

Sabe a música "Telephone Call from Istambul", também do Tom Waits? É Música do Mexe e Para pra Sophia.

Sabe uma ilustração de esquilo (qualquer uma)? Todo esquilo desenhado chama Squeaky pra Sophia.

Se você souber de onde ela tira esses nomes, mande um email esclarecendo, belê?




Direto na têmpora: Girl With One Eye - Florence And The Machine

Espera

Eu prefiro sempre a gratificação imediata a outro tipo de recompensa, mesmo que melhor, se eu tiver que esperar. Eu não tenho paciência para colher frutos a médio e longo prazo. Resumindo, eu sou um velho resmungão incrivelmente infantilizado.

E se meu modo de agir fosse comparado ao de uma das crianças do (maravilhoso) vídeo abaixo, seria exatamente igual ao da ruivinha que aparece no final.


Oh, The Temptation from Steve V on Vimeo.






Direto na têmpora: Gold Soundz - Pavement

segunda-feira, setembro 14, 2009

Destro

Em minha mão esquerda, a letra é garrancho
o aperto é frouxo
a firmeza é trêmula
a certeza é dúvida

Minha mão esquerda é o equilíbrio que tomba
é o caminho que se perde
é o seguro que se esvai
é o exato do qual se desconfia

Nesta mão que não uso, canhestro é o gesto
cruel é o carinho
impreciso é o toque
claudicante é o lance

Essa mão que é canhota e que, mesmo inteira e viva, ainda soa à destra como uma irmã algo morta.



Direto na têmpora: If I didn't love you - The Specials

Tatoo de verão

Minha Sophia olha bem pra tatuagem do Diogo, meu irmão e diz:

- Vamos tirar a tatuagem agora, tio Diogo?

- Essa tatuagem não sai não, Sophia.

- Sai sim, é só passar álcool.




Além de criticar veladamente as tatuagens de familiares, minha Sophia também anda a cavalo.




Direto na têmpora: Daddy needs a drink - Drive-By Truckers

sexta-feira, setembro 11, 2009

Vendedores de enciclopédias

Meus pais moraram na Venezuela durante os 3 primeiros anos de vida da minha Sophia. Além das poucas visitas anuais, Sophia conheceu vovô e vovó pela webcam. Quando eu estava em Montes Claros fazendo campanha política, também era a internet que nos mantinha próximos.

Estamos superando a era da proximidade para viver a era da afinidade. Você não se relaciona mais só com quem está próximo, mas com quem divide interesses, vontades, pontos de vista y otras cositas más com a sua pessoa.

Você não precisa mais conversar só com quem gosta de futebol, mesmo sendo fã de basquete. Você não precisa aceitar o prato do dia. Você não precisa perder contato pela distância. Na verdade, na questão do afastamento o tempo vem substituindo a distância com folgas.

Isso vale tanto para relacionamentos pessoais, de consumo ou profissionais. Mas é no campo profissinal que eu chego ao ponto que queria e que não tem nada de novo: cuidado para não se tornar um vendedor de enciclopédias.

Muito cuidado para não ligar o seu jeito de ver o mundo, o seu raciocínio criativo a formatos. Pense em como falar com pessoas e não como encaixar a sua mensagem em caixas. Conte histórias, escute histórias, invente histórias.

Na era da afinidade, o diálogo vale mais. Ninguém precisa mais te ouvir simplesmente porque você grita e nem adianta tanto mostrar a sua cara para o vizinho em qualquer oportunidade.

Hoje vocês têm que conversar pelo simples fato de que têm algo em comum. E se o assunto não render, a afinidade e a sua chance de ser ouvido morrem. Kaput.




Direto na têmpora: Alive and kicking - Simple Minds

O mudinho que não há em mim

Confesso, eu sou daqueles caras que sempre tem algo a dizer. Sempre tem uma brincadeirinha, um comentariozinho, uma opiniãozinha e isso, sinceramente, é um lixo. Até porque 90% das coisas que eu falo são besteiras, e deste total 60% causam algum embaraço.

Por exemplo, outro dia estive um bar do qual era frequentador assíduo há alguns anos. O marido toca, a mulher gerencia e, lá pelas tantas, o músico atca de Roberto Carlos e a mulher vem flanando na direção da nossa mesa e cantando:

- Nunca se esqueça, nem um segundo, que eu tenho o amor maior do mundo...


E o bocão aqui logo responde, todo cheio de graça e romance.

- É, e ele tá bem ali no palco tocando, né?

- Que é isso, meu filho, eu separei faz 3 anos e estou feliz, casada com um médico, lindo, rico...





Direto na têmpora: Lonesome Town - Zooey Deschanel

quinta-feira, setembro 10, 2009

Aos que nunca suam

Uma homenagem a você, que vai ao médico com hora marcada, aguarda mais de 50 minutos para ser atendido e ainda entra na sala com um sorriso.

Uma homenagem a você, que lê dia após dia nos jornais os escândalos no Senado, a roubalheira generalizada, o descaso com a opinião pública e ainda se anima a votar para mudar as coisas.

Uma homenagem a você, que paga aos flanelinhas para estacionar em via pública e ainda agradece ao sair com o carro ileso.

Uma homenagem a você, que pega a Senhora do Carmo pra voltar do trabalho e não odeia a BHTrans.

Uma homenagem a você, que acha o prefeito aumentar seu próprio salário algo normal, que acha briga de torcidas um fato do futebol, que acha que tudo bem deixar os outros furarem fila, que não se importa com quem não limpa cocô de cachorro na calçada.

Uma homenagem a você, seu sangue de barata filho de uma puta. Porque eu, definitivamente, não aguento mais essa porra.



PS - Revoltadinho ele, né?




Direto na têmpora: The Weight (Take a load off Annie) - The Band

quarta-feira, setembro 09, 2009

A pastelaria hoje e sempre

Então vamos lá com uma comparaçãozinha besta sobre os acessos ao Pastelzinho. Sabe como é, né, tem quem goste.


Cidades

Ranking histórico / Ranking últimos 30 dias

1- Belo Horizonte / Belo Horizonte
2- Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
3- São Paulo / São Paulo
4- Curitiba / Brasília
5- Salvador / Curitiba
6- Brasília / Salvador
7- Porto Alegre / Santo André
8- Recife / Recife
9- Campinas / Ipatinga
10- Goiânia / Porto Alegre



Países

Ranking histórico / Ranking últimos 30 dias

1- Brasil / Brasil
2- EUA / EUA
3- Venezuela / Portugal
4- Portugal / Canadá
5- Espanha / Espanha
6- Canadá / Reino Unido
7- Áustria / Bélgica
8- França / França
9- Reino Unido / Japão
10- Bélgica / Suíça




Direto na têmpora: Strange Things Will Happen - The Radio Dept.

7 pontos sobre redes sociais e algo mais

1) Boa parte dos usuários ainda não entendeu que tudo o que você escreve no Twitter, todo mundo pode ler. Sim, mesmo que você coloque cadeadinho.

2) Sempre que eu vejo um perfil com aquela foto no estilo risada-louca-em-uma-balada-super-legal-jogando-os-cabelos-ao-vento eu acho que a pessoa dorme no máximo 2 horas por dia e sai pra dançar / beber de segunda a segunda.

3) Toda rede social é estúpida se você não está nela.

4) Qualquer pessoa com mais de 25 anos fazendo hang loose nas fotos do perfil me dá a impressão de ser portador de algum tipo de problema no desenvolvimento mental ou emocional.

5) Pior do que uma empresa sem presença nas redes sociais é uma empresa com presença equivocada nas redes sociais.

6) Blogs não são necessariamente mais confiáveis ou livres de interferência do que jornais. Depende dos blogs e depende dos jornais.

7) A internet e o "mundo real" não são coisas inteiramente separadas. Se você é um imbecil nas ruas, dificilmente vai ser visto como um gênio fora delas.




Direto na têmpora: Your beauty is a knife I turn on my throat - Eagle Seagull

Muppets + Beatles = yoooohoooooo

O meu amigo Ivan Curi deu a dica e eu compartilho com vocês este maravilhoso vídeo dos Muppets cantando Blackbird, minha canção favorita dos Beatles.







Direto na têmpora: Falling down in anger - Carsickness

terça-feira, setembro 08, 2009

Ainda mais surdo, ainda mais burro

Eu já contei aqui que sou ótimo pra entender letras de música de um jeito absurdo.

Já falei da música do Metrô em que a Virginie cantava "Meu amor se zangou de ciúme chorou" e eu ouvia "Meu amor se zangou DISSE UH e chorou".

Já contei também que Sonífera Ilha, dos Titãs, pra mim era "SÓ NI VER A ILHA".

Não contei antes, mas conto agora que, naquela música do "ele tomou um banho de água fresca no lindo lago do amor", o Gonzaguinha cantava "a chuva abençoou" e eu mandava ver um visceral "A CHUVA MENSTRUOOOOU".

Achava que nada me superaria em quesito de surdez / burrice, mas aí veio o Auzier do Pedacinhos do Céu me contar que um antigo professor de violão dele interpretava Raul Seixas aos berros de "Eu sou Aristóbagoooooo, eu sou Aristóbagoooo, vocês precisam acreditar em mim, eu sou Aristóbagoooooo".

E assim caminha a humanidade.




Direto na têmpora: Space Monkey - Patti Smith

Ajuda eu, moço?

Projetos aprovados na Lei de Incentivo à Cultura, chegou a hora de captar. Se você é dono, trabalha ou conhece alguma empresa que tenha interesse em incentivar a cultura e ainda aproveitar os descontos que a lei gera, fique sabendo que eu e Rogério Fernandes temos dois projetos prontinhos para serem produzidos.

O primeiro é o livro infantil "Todas as Estrelas do Mundo" e o segundo é o livro "Andar por andar". O primeiro brinca com os significados da palavra "estrela" e o segundo traz histórias de cada um dos apartamentos de um grande edifício. Os textos são meus e as ilustrações sempre fodaças são do Rogério Fernandes.

Para conhecer melhor os projetos, mande um email para mim (mauriloandreas@gmail.com) ou para o Rogério (rogeriogravura@gmail.com).

O pasteleiro conta com a ajuda da clientela e promete continuar pagando diariamente com seus pastéis de vento.




Direto na têmpora: Cattle and the creeping things - The Hold Steady

É muita água

Sophia, em Ouro Preto, desancando com a pobre coitada e querida tia avó:

- Tia Rosa, tem que beber muita água pra ficar com a pele bonita e com o cabelo macio, né?

- É, Sophia.

- E você não tá bebendo muita água, né, tia Rosa?





Direto na têmpora: Mambo Italiano - Renato Carosone

sábado, setembro 05, 2009

Afrescos do Êro Preto

Mal chegamos a Ouro Preto e, enquanto passeávamos pelas ruas, uma certa casa chama a atenção da minha Sophia. Com voz entusiasmada ela me chama:

"Olha, papai, uma casa de osso de cachorro!"

E o pior é que, olhando de perto, eu vi e entendi que ela tava certa. Confere aí.







Direto na têmpora: Je ne suis pas ta chose - Camille

sexta-feira, setembro 04, 2009

Doação de órgãos

Já que hoje estão arrancando meu fígado e falta tempo pra pensar e pra postar, deixo aqui o famoso vídeo do Monty Python sobre a doação de órgãos não tão voluntária assim. Na terça eu volto.







Direto na têmpora: Cigarettes - Russian Red

quinta-feira, setembro 03, 2009

WWF - WTC = DM9DDB

A DM9DDB fez um filme e um anúncio que comparavam o ataque às torres gêmeas com a destruição do tsunami. A peça não foi veiculada, não foi aprovada pelo cliente, mas a agência a inscreveu em um prêmio.

Eu acho uma peça de mau gosto, meio na linha criatividade a qualquer custo, mas essa é a opinião de uma pessoa e nunca deve pautar as decisões de uma dupla de criação, de uma agência e nem de um cliente.

O problema foi que, mais do que achar de mau gosto, o público estadunidense e a imprensa em geral massacraram a campanha de forma virulenta e violenta. Qual a reação da DM9? Tirar o filme do youtube, dizer que "os responsáveis não trabalham mais na empresa" (o que é mentira) e tentar "abafar o caso".

Eu esperava mais da DM9. Esperava uma postura que dissesse algo como "a DM9 acredita em levar a ousadia às últimas consequências, o problema do meio ambiente é sério e nós acreditamos que nossa idéia é pertinente, criativa e eficiente, tanto que a inscrevemos em prêmios e a divulgamos com orgulho. Pedimos desculpas às pessoas que ofendemos e sentimos pela reação contrária à peça, mas nunca iremos deixar de buscar o caminho mais ousado e/ou inusitado. A propósito, os responsáveis que não trabalham mais na empresa saíram por outros motivos e não por um cerceamento à criatividade e à ousadia."

Esse era o tipo de resposta que uma agência do porte da DM9DDB deveria dar. Era isso o que eu esperava, mas como eu disse, uma agência não deve se pautar pelo que alguém como eu pensa.

Se quiser ver o filme, ele foi "Cicarellizado" e tirado do youtube, mas ainda pode ser visto aqui.




Direto na têmpora: Lover's Spit - Broken Social Scene

Elegia a um homem vivo

Paulo César é um homem enorme em todos os sentidos. Mesmo tendo perdido 22 de seus muitos quilos, Paulinho continua contendo em si tudo o que faz dele uma figura de proporções mitológicas.

Sua risada é gigantesca, seu coração não conhece limites e a simples menção de seu nome é capaz de preencher a mais vazia das salas, a mais chata das palestras, a mais perdida das esperanças.

Com o Paulinho, toda história é uma boa história, todo caso é digno de memória, toda idéia ganha algo além da própria idéia.

Assim que conheci o Paulinho, bastaram 5 minutos para que eu sentisse por ele um carinho genuíno (não sei se ele sente o mesmo). E quando descobri que ele era pai do Diogo, um outro amigo querido, aí a cena ficou completa.

Semana passada lá estava ele no sábado aberto do Clic, com chapéu de bobo da corte e todo felizão, cercado pela família. Ontem, descobri que Paulinho passou por uma situação de saúde meio séria e que está internado. Tenho acompanhado os boletins da família via email, graças à Dri, e queria deixar aqui no pastelzinho o meu pedido para um dos maiores, mais bobos, mais adoráveis e mais afetuosos companheiros desse mundo.

Paulinho, meu velho, se segura aí. Bota força nesse sorriso, se organize desorganizando tudo à sua volta e volta. Mas volta logo, porque sem saber você por aqui, o mundo anda pequenininho demais por essas bandas.




Direto na têmpora: Lunar Sea - Camera Obscura

quarta-feira, setembro 02, 2009

Os 12 trabalhos de Hércules, o publicitário

Os 12 trabalhos do velho Hércules todo mundo conhece:

1) Matar o Leão de Neméia.

2) Matar a Hidra de Lerna.

3) Alcançar correndo a Corça de Cerínia.

4) Capturar o Javali de Eurimanto.

5) Limpar em um dia os currais do Rei Aúgias.

6) Matar os monstros do lago Estínfalo.

7) Levar o Touro de Creta até Euristeu.

8) Castigar Diomedes, filho de Ares.

9) Roubar o cinturão mágic das Amazonas.

10) Matar o gigante Gerion.

11) Trazer Cérbero do inferno.

12) Colher os pomos de ouro do Jardim das Hespérides.


Numa boa, sopinha com mel. Difíceis mesmo são os 12 trabalhos de Hércules, o publicitário.

1) Traduzir e compreender a linguagem secreta dos PITs, documentos misteriosos lançados à terra pelos deuses do Monte Atendimento.


2) Prever e preparar o futuro sem nenhum tipo de auxílio do oráculo CLT.

3) Dilatar o tempo para que todo o conteúdo do Grande Livro das Informações do Cliente caiba em 30 segundos.

4) Convencer as 7 cabeças da Hidra Bombal de que a campanha é realmente boa.

5) Sobreviver se alimentando apenas de pizza durante um mês, sempre entre 20h e 3h da manhã.

6) Deter com as próprias mãos as engrenagens do tempo, no Vale de Prazos, para entregar os frutos do seu suor de acordo com os caprichos dos deuses.

7) Utilizar força bruta e astúcia para inserir a Biblioteca de Chatos no anúncio de um quarto de página.

8) Explicar ao Deus Mimos que "porque eu não gostei" não é resposta.


9) Manter-se acordado durante as 14 primeiras horas da grande festa pagã que ocorre durante a época das Reuniões Intermináveis.


10) Levar a idéia até o Inferno de Verbas e trazê-la viva (não intacta, mas pelo menos ainda respirando).

11) Convencer a irascível Deusa Mozinho de que você realmente está na agência até aquele horário.

12) Utilizar a meditação trascendental para não matar as banshees que uivam "é muito simples, coisinha boba, dá pra resolver isso aí pra mim rapidinho?"




Direto na têmpora: So Sorry - Feist

Namorando

Eu não posso dizer que fui um cara namorador, mas tive lá a minha quota. Algumas vezes, admito, fui mau caráter, mas nunca cheguei ao ponto de Terrance Dejuan McCoy, de 23 anos.

Ele marcou o encontro com a gatinha e depois os dois saíram no carro dela para um restaurante. Comeram, conversaram, se divertiram e, na hora da conta, ele lembrou-se de que tinha esquecido a carteira no carro da garota.

Pediu a chave, deu o cano na conta, roubou o carro e sumiu, deixando a mulher sozinha na mesa. Isso, senhoras e senhores, é um vagabundo.

Leia a notícia na íntegra aqui.




Direto na têmpora: Fever - Elvis Presley

terça-feira, setembro 01, 2009

Ctrl + C, Ctrl + V

Pra finalizar os posts de hoje, resolvi tirar do Casos da Propaganda, blog do Don Oliva listado aí ao lado, este caso sensacional da história da publicidade. Aproveitem.


A campanha de TV do Banco Nacional naquele ano de 1979 ficou inédita. Quer dizer, na verdade entrou no ar uma colcha de retalhos com cenas – nada inéditas, se bem que inesquecíveis – de filmes que marcaram época na história do banco. Até aí tudo bem. Afinal era uma campanha de aniversário e o que foi pro ar não deixou a gente envergonhado, não. Mas é que a campanha original, a que o Favilla e eu tinhamos bolado era simplesmente do caralho. Tinha depoimentos de pessoas que estiveram de alguma forma envolvidas com um banco que sempre apoiou a cultura, os esportes, etc. Entre elas João Saldanha, Grande Otelo e Nelson Rodrigues. E com um detalhe: a gente produziu parte da campanha em vídeo para mostrar ao cliente.

A gravação do Grande Otelo, por exemplo, foi tão emocionante que deixou gente chorando e arrepiada. Foi desses momentos inesquecíveis. A do Saldanha teve uma característica marcante que foi o seu cronômetro mental. A gente dizia fala aí 10 segundos e ele falava 10 segundos. Depois a gente pedia para ele falar 35 segundos e ele falava os 35 segundos. Cravados. Foi uma coisa fantástica.

Mas o melhor mesmo foi o dia em que nós fomos fazer o vídeo com o Nelson Rodrigues. Foi tudo marcado no apartamento dele lá no Leme. Chegamos pontualmente na hora marcada. Aquele clima de se estar na casa de um gênio era uma coisa emocionante. Entramos e lá estava o dito cujo sentadão numa poltrona, com aquela voz que ninguém igualou até hoje. Aquele falar compassado, aquele tom cavernoso. O pessoal da produtora montando toda a parafernália de som e luz. Um puta dum reboliço no ar.

De repente Nelson, o próprio, o dito cujo, himself, diz que queria ver o texto do comercial. E ele enfiou a cara no texto. Leu, releu, parou, olhou em todas as direções e perguntou: “De quem é esse texto?”. Favilla levantou-se e encaminhou-se à mesa da sala de jantar, onde o mestre estava sentado. Humildemente, tal qual fosse um aluno na sala de aula levantou o dedo e disse que era dele. Ele virou-se lentamente na sua direção e retrucou: “Esse texto tem um problema grave...”. – Todos gelaram, atônitos. – “...Nelson Rodrigues não é um dos maiores autores de teatro do Brasil... Nelson Rodrigues é o maior autor de teatro do Brasil!”. Finalizou, olhando em torno com ar desafiante. Foi um tal de conserta daqui, pigarreia dali, até que o silêncio instalou-se por alguns infindáveis segundos na sala.

O que se seguiu foi um tentar desfazer o que se tinha feito, um jogar panos quentes, uma sucessão de sorrisos amarelos, “não é nada disso” e por aí afora. E a gente vendo a hora do cara falar “não ga-ra-vo” no melhor estilo Alberto Roberto. O que afinal de contas e graças a deus, ou sei lá o quê, acabou não acontecendo. Uf!

Bom, a verdade é que o comercial foi gravado e ficou supimpa. Como aliás ficou toda aquela campanha que acabou não saindo. Well, as a matter of fact eu sei lá quantas campanhas do cacete a gente cria e não vão para o ar. Faz parte da vida da gente. A Y&R tem até uma premiação interna em Nova Iorque para esse tipo de trabalho. Mas a verdade é que dói quando eu me lembro desta inédita na minha vida. E na do Favilla, do Eugênio e sua produtora. Enfim... Coisas da propaganda.





Direto na têmpora: How to be dead - Snow Patrol

Inalienável

Eu me dou o direito de não gostar de Elis Regina.

Sim, eu tenho o sagrado e inalienável direito de achar que nem tudo o que Picasso fez é genial.

Eu posso dizer que não gostei do filme novo da Almap e que a idéia das pipocas e da nova Saveiro não me encantou.

Eu tenho total liberdade para afirmar que acho frango uma porcaria, que não sou tão fã de Clarice Lispector e que Caetano e Chico deixaram de ser geniais há pelo menos 20 anos.

Eu acredito que Penélope Cruz é bonita, mas nem tanto, e que Woody Allen tem dois ou três filmes muito chatos.

Para mim, Dalto é melhor que Djavan e os Los Hermanos não passam de uma banda mediana.

Eu não acredito em vacas sagradas, não acho que o Senna tenha sido o melhor piloto de todos os tempos e não tenho a mínima esperança de que o Brasil será um país ético.

E sabe o que é mais bacana? O fato de você discordar de tudo isso não muda em nada o que eu sinto (nem pelos nomes citados acima e nem por você).




Direto na têmpora: Maria - Blondie

Leitorzim

Acabo de ler Billy Budd, do Herman Melville. Dos três livros dele que li (os outros dois são Moby Dick e Bartelby, o Escrivão), este é sem dúvida o menos sensacional. Ainda é um bom livro que vale a pena ler, mas eu nunca recomendaria como primeira leitura para quem quer conhecer Melville.

Antes dele, passei por American Gods, do Neil Gaiman; A Árvore dos Desejos, de Faulkner e The Day I Swapped My Dad for Two Goldfish, também do Gaiman.

American Gods é excelente e apenas coisa de meio degrau abaixo de The Graveyard Book, com a vantagem que já possui tradução em inglês.

A Árvore dos Desejos é um ótimo infanto-juvenil e The Day I Swapped My Dad for Two Goldfish é uma das obras mais divertidas, criativas e inusitadas que eu já li. Aliás, fui traduzindo pra Sophia e ela chegou a dar gargalhadas em alguns trechos.

Enfim, era mesmo só pra falar um pouco do que eu ando lendo e, quem sabe, servir como indicação procês, afinal, nem só de pastel vive o homem.




Direto na têmpora: The Impossible Dream - Elvis Presley