quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Depende

Depende do jeito que ela olha pra mim

Se o dia prossegue
Se a dor se apequena
Se eu acredito em pra sempre

Depende do jeito que ela me cuida, do jeito que ela me aninha, do jeito que ela segura minha mão

E então nada mais depende, mesmo que ela me ame um minuto somente, porque com o olhar ela disse que sim.




Direto na têmpora: Vagabond - Beirut

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Farol de São Tomé

A família da Fernanda tem uma casa em Farol de São Tomé, município de Campos, no Rio de Janeiro e fomos para lá no carnaval.

Após o terceiro dia, animadíssima com o sol, mar e praia, Sophia declarou:


- Essa é a melhor viagem da minha vida!


- Melhor que Porto de Galinhas?


- Melhor!


- Melhor que a Praia do Forte?


- Melhor!


- Melhor que o Rio de Janeiro?

- Melhor!
E eu, maligno, pensando no futuro.

- Melhor que a Disney?

Ela então me olhou muito séria e disse:

- Olha, papai, eu nunca fui à Disney e sempre fui doida pra ir, mas agora eu só quero vir aqui pra sempre!

Corta para o pai rindo loucamente por dentro e imaginando tudo o que ele poderá comprar com a grana economizada.




Direto na têmpora: No way - Sonic Youth

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Preconceito

O ser humano é curioso e temerário diante do diferente. Desde crianças, sempre que estamos diante de algo que não compreendemos ou que não corresponde aos padrões apreendidos inicia-se uma batalha dentro de nós entre o instinto de descobrir e o de se afastar.

Grande parte da nossa personalidade e dos caminhos que seguiremos depende das proporções com que combinamos estes fatores de medo e curiosidade.

Com o tempo, a curiosidade tende a se transformar em empatia e o medo tende a se transformar em raiva. Nasce assim o preconceito.

Fui criado em uma época em que piadas sobre gays e negros eram comuns até mesmo em programas infantis como os Trapalhões. Entendo que também no humor existe a capacidade de diminuir, de subjugar, de excluir alguém pela piada, mas sempre consegui enxergar o lado do riso que mostra com leveza a diferença e aproxima mais do que afasta.

São linhas tênues.

Sempre tive amigos negros, alguns namoricos com mulheres negras e nunca entendi bem o preconceito. Para mim a diferença da cor da pele é a mesma da cor do cabelo ou da altura. Poderíamos estar dividos entre gordos e magros, com sardas e sem sardas, orelhas presas e orelhas soltas. Até pelo convívio próximo eu nunca tive esse tipo de visão da diferença na questão cor da pele. Às vezes até fazíamos piada, mas nada com o intuito de ofender, apenas repetindo padrões e costumes.

Mas na questão da diversidade sexual a coisa era diferente. A verdade é que na minha adolescência de interior era padrão criticar, evitar, isolar e até mesmo magoar os gays para mostrar como éramos "machos".

Homem que é homem não fala fino, homem que é homem não beija outro homem, coisas do tipo. E isso nos distanciava das pessoas. "Eles" não eram homens, eram algo diferente, estranho.

E por isso eu tive amigos gays que só foram se assumir anos depois e por isso eu agi muitas vezes como um babaca até que eu amadureci e eles também.

Compreendemos mais ou menos ao mesmo tempo que ser gay é como ser louro, ter orelhas de abano ou mãos bonitas. É apenas uma das características que forma aquela pessoa. Passei a compreender, a respeitar e a romper com padrões com os quais fui criado, menos pelos meus pais, e mais pelo ambiente em que vivia.

Para mim, o preconceito perdeu o sentido e já fica difícil entender porque esses caras não podem se casar na igreja ou entrar de mãos dadas no cinema.

"Ah, mas você já chamou um amigo de gay que eu já vi". Sim. E talvez seja apenas um hábito que preciso mudar. Ou talvez não, talvez o humor não precise ser tão correto e tão cuidadoso assim e a brincadeira seja apenas uma brincadeira quando não tem o intuito de machucar. Pode ser também que eu precise refletir ainda mais sobre o assunto.

Não sei.

Mas sei que, para mim, a questão continua a mesma: como reagimos diante do diferente, do que não responde aos padrões aos quais estivemos expostos por tanto tempo. Curiosidade ou medo?

E quanto menos medo, quanto menos ignorância, menos motivos para que continue sendo assim. Porque a violência é quase sempre sinônimo de incompreensão absoluta, a reação de uma criança que, diante de um brinquedo de montar resolve o problema do seu jeito ou se frustra e quebra o joguete.

Eu amadureci (ou estou amadurecendo). E você?



* Parabéns pela inconstitucionalidade da Prop8 na Califórnia.




Direto na têmpora: Elevator love letter - Stars

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Abandono

Três pessoas vieram perguntar / reclamar / constatar que eu abandonei o Pastelzinho. Não nego, larguei mesmo isso aqui de lado.

Acho que perdi o pique de escrever diariamente e, sem essa motivação, acabo deixando pra depois. Percebi também que um post colocado aqui tem uns 200 views e 2 ou 3 comentários, enquanto que basta que eu coloque no Facebook para que ele alcance fácil 500 ou 600 views.

Não vou dizer que não posto mais, mas posso garantir que vai ser cada vez menos.

Quem sabe um dia eu recupero o pique?




Direto na têmpora: Needing / Getting - OK Go