terça-feira, maio 31, 2011

Revisionismo 2

O ser humano erra muito. Faz bobagem, vive épocas de absurdos grandiosos, dá mostras de ser irrecuperável como espécie.

Até aí tudo bem, nós conseguimos ser falíveis, vergonhosos, estúpidos e ainda assim evoluímos em certos aspectos e alcançamos coisas bem legais.

Ainda assim, não dá pra negar que houve o holocausto há menos de 3 quartos de século e varrer o horror pra debaixo do tapete. Não dá pra ignorar que um dos maiores escritores brasileiros era bastante racista e que naquela época o racismo era aceito como fato. Também não dá pra achar que Collor foi presidente, hoje é senador e que nada aconteceu no meio do caminho.

Nosso pai Sarney, o onipresente, duradouro e inoxidável acha que o impeachment de collor foi um fato menor na nossa história. Um pezinho de página que só os velhos resmungões leem.

Daqui a pouco, alguém vai dizer o mesmo sobre a ditadura.

A importância do fato não pode ser relativizada. Não dá pra esconder o ocorrido, mudar o texto, limpar o sangue da calçada e fingir que está tudo bem. Isso é revisionismo. Isso é ocultação de cadáver. Isso é cuspir na cara da história e de quem viveu uma época.

Só o tempo vai dizer qual o real tamanho de um fato. Não cabe a nós decidir o que é significativo ou pertinente para jovens e crianças que recebem apenas uma versão dos fatos.

Dane-se essa mania idiota de limpeza. Que se debata o holocausto em toda a sua estupidez para que ele não ocorra de novo. Que se mantenha o texto e se questione o autor sem macular a obra. Que saibamos quem foi Fernando Collor e qual o seu real papel para o amadurecimento da democracia brasileira.

E, principalmente, que Sarney não seja o escriba oficial da nossa história.




Direto na têmpora: Little miss can't be wrong - Spin Doctors

segunda-feira, maio 30, 2011

Escrever bem

Escrever bem é uma arte, mas também pode ser uma arma. Arma de conquista, arma de convencimento, arma de argumentação.

E para a sorte de quem escreve, uma das grandes confusões que as pessoas fazem é entre um texto bem escrito e um texto que diz algo realmente importante. As pessoas ainda confundem forma e conteúdo.

Só que esse disfarce não resiste a uma avaliação mais detalhada. Basta ir além de adjetivos e construções atraentes para encontrar um enorme vácuo onde deveria estar o conteúdo.

Na internet as pessoas se encantam muito com o primeiro olhar e, me parece, se impressionam ainda mais facilmente com um bom texto, mesmo que ele diga nada.

Por isso eu me convenço cada vez mais de que estamos cercados por um analfabetismo intelectual. Admite-se como conquista suficiente ler as palavras e admirar as formas, quando o essencial deveria estar no debate das entrelinhas, dos interesses e das absurdas verdades absolutas.

Escrever bem é uma qualidade desejável e importante, mas questionar um conteúdo bem escrito é algo mais necessário ainda.




Direto na têmpora: The shining hour - Grant Lee Buffalo

Aladim em Ouro Preto

Sophia percebendo na Igreja do Pilar uma certa referência às mil e uma noites.

- Papai, a gente vai é ali naquela igreja da Yasmin?





Direto na têmpora: Get Better - Mates of State

sexta-feira, maio 27, 2011

Animação pro findi

E já que tem muito vídeo no Pastelzinho hoje, vai mais um para o final de semana. Lindo, aliás.


Four from InkyMind on Vimeo.





Direto na têmpora: Split needles - The Shins

Fãs do Chefão

Três cenas para quem, como eu, é fã de "O Poderoso Chefão".













Direto na têmpora: All of this - The Naked And Famous

quinta-feira, maio 26, 2011

A tribo culturalista

- Mamãe essa é a minha índia culturalista.

- Olha só, Sophie, posso pegar?

- Nãããããããooooooo!!! Você vai destruir a cultura culturalista!






Direto na têmpora: Bang on - The Breeders

quarta-feira, maio 25, 2011

A vida no Opera House

Ultimamente tenho me sentido como um membro da comunidade operística mundial. Comprei Tosca e La Traviata para Sophia e pronto, está ainda mais apaixonada por ópera.

Só de ouvir a música ela já percebe a cena e identifica se há briga, romance, alegria, e aí, com minha ajuda (e principalmente dos libretos que acompanham a coleção), vai construindo a história na sua cabeça.

Outro dia, passando pela sala, ouço agudos agudíssimos trinando algo como "Laialaaaaaaaaiaialaia".

- O que é isso que você está cantando, Sophia?

- Uma ópera que eu fiz.

- Que legal, como ela chama?

- A ópera chama "O Abominável Homem das Neves" e essa música é "No Himalaia".





Direto na têmpora:

terça-feira, maio 24, 2011

Raiozinho de sol

Depois de escapar de uma nuvem escura, de um prédio cabreiro, de uma cortina sisuda, o raiozinho de sol se deita inocente sobre algum canto do chão.

Enxerido, revela a poeira que pairava insuspeita pelo ar da sala. Desnuda partículas, exibe no susto um ar que é visível, rouba um pouco de inocência e deixa lá seu tantinho de poesia.

Primeiro é o gato que busca o raio, a preguiça em pessoa, ou melhor eu diria, a preguiça em gatice. Se estica invertebrado, se espalha alongado e é um novo bichano, comprido e leve, de outra certa infantil substância.

Para o gato, raiozinho de sol é novelo, é prato de leite, é carne fresquinha, é caçar passarinho, tudo isso num suave jato de luz.

Mas chega o menino e se encosta no gato, felino mimado que não sabe dividir. E em pouco, são só menino e raio sol, dois, mas quase um.

É um entregar de tão doce abandono, de um quentume tão morno, que o corpo se perde em um sono micromoleculocelular e se deixa assim, um mantra, um sossego, uma paz que não há quem medite tão pura.

Um encontro de tempo desmedido, com regras das mais descabidas que fazem de um minuto uma tarde, que fazem de uma soneca uma vida.

Um menino e um raio de sol, pronto. Me basta, me supre, me completa mil cenas, me recheia mil sonhos, me inventa mil textos. Mas então, como toda e qualquer tragédia, a nuvem escura se move um milímetro, o prédio cabreiro se agiganta impassível, a cortina sisuda retoma seu posto.

Em um cruel passe de mágica, da luz fez-se o vago e já não resta da fresta o jorro iluminado. Sumiu-se a poeira que antes bailava, notícias do gato já não se tem, perdeu-se o menino em outra brincadeira.

No pedaço de chão, impressa em carpete, restou a invisível sensação de memória, um talvez de infância, um fiapo de instante. Uma ausente presença que aquece e conforta e promete outras tardes para quem não amanheceu ainda.




Direto na têmpora: Pour que l'amour me quitte - Camille

Thank you, Mr. McCartney.

Show maravilhoso, o do McCartney, viu? Fomos eu e minha Fer e amamos cada instante, cada música, até mesmo a organização mereceu aplausos.

Obviamente me emocionei com Blackbird e Something. Obviamente dancei pra caramba. Obviamente cantei junto e me encantei com o cara que fez parte da minha formação como ouvinte de música e influenciou muito do que eu gosto.

Demorou, mas aconteceu. E, graças também à hospitalidade de Raphael e Sabrina Crespo, foi perfeito.

Perfeito.




Direto na têmpora: Back in the U.S.S.R. - The Beatles

sexta-feira, maio 20, 2011

Pra encerrar a sexta

Amiguinhos, só devo voltar a postar na próxima quarta-feira, por isso, filmezinho de "até logo" pra vocês. Inté.


Sometimes the Stars from The Audreys on Vimeo.





Direto na têmpora: Ace of spades - Hayseed Dixies

Os jovens-jovens

Outro dia alguém pesquisou nas ruas de Nova Iorque e descobriu que muitos teens não fazem ideia de quem foram os Beatles.

Parece absurdo, eu sei, mas os Beatles já se separaram faz tempo, dois deles morreram, não há novas gravações, enfim, a situação tem lá seus atenuantes.




De qualquer forma, eu tenho a impressão de que é possível determinar a idade de alguém pelas celebridades que ele conhece. Usando o futebol como exemplo: se o cara não conhece Nilton Santos ele não é necessariamente jovem. Se o cara não conhece Sócrates, ele com certeza é jovem. Agora, se o cara não conhece o Higuita ele definitivamente não tem mais de 18 anos.

Higuita não diz nada para os jovens-jovens, assim como algum goleiro da Colômbia da década de 60 não diz nada pra mim.

Sendo assim, defino aqui meu padrão de reconhecimento da juventude-jovem pelo Higuita. Se você não conhece o figura, provavelmente ainda não fez vestibular e certamente nunca provou a pururuca Bottrel (ok, se você tem menos de 30 muito dificilmente provou).

Então, fica combinado. Se você, jovem-jovem, quiser conversar com o tio Maurilo como se tivéssemos uma idade mais compatível, procure na Wikipedia tudo sobre o homem da foto aí debaixo.



E pra começar, assista a este vídeo aqui.






Direto na têmpora: Bull rider - The Detours

quinta-feira, maio 19, 2011

Sophia sobre o escuro

No escuro a gente acha que algumas coisas que não existem, existem. No claro a gente acha que está tudo bem porque a gente vê tudo o que existe.

No escuro, se a gente vê Coraline, acha que a mãe dela existe. No claro também. Dá medo igual.

No escuro a gente tem medo do que não vê. No claro a gente só tem medo do que vê.

No escuro a gente tem vontade de dormir e de brincar. No claro a gente tem vontade de brincar. No pôr-do-sol a gente também tem vontade de brincar. Ah, a gente tem vontade de brincar é o dia inteiro.




Direto na têmpora: Human - The Human League

quarta-feira, maio 18, 2011

Uma inocente observação política

Não consigo pensar em alguma exceção para o que eu vou dizer, embora isso não queria dizer que ela não exista.

É que desde sempre vejo grupos políticos tidos como sérios se aliando a alguma corja com o argumento de que é pelo bem de um projeto maior.

Acontece na direita, acontece na esquerda, acontece no centro. Alia-se a qualquer um desde que isso signifique a vitória de um objetivo "x" e as pessoas não apenas aceitam como defendem este tipo de atitude.

Eu, em minha visão ingênua, imagino um sorveteiro que está louco para levar a qualidade inquestionável de seus produtos a todo o País. São sorvetes deliciosos, saudáveis, nutritivos, baratos e, para que estejam à disposição de todos, o sorveteiro precisa se aliar a alguém, já que não tem condições de produzir no volume necessário.

Ele busca vários parceiros, mas percebe que a opção mais lucrativa e rápida é se aliar a um famoso produtor de cocô de vaca. Não é o que ele queria, mas é importante para o projeto maior.

Em pouco tempo o sorveteiro atinge sua meta e está presente em todo o Brasil, levando às massas seu delicioso sorvete com um custo reduzido e os mais diversos sabores.

O único problema é que agora ele está misturado com cocô de vaca.

E aí, vale a pena?




Direto na têmpora: Vaulted eel - Rasputina

Princesa

Ontem meu amigo Herbert Rafael, da 3Bits, me ligou e eu atendi com a mesma brincadeirinha de sempre:



- Ei, princesa!




Ouvindo a saudação, Sophia gritou lá do quarto:



- Papai! Não pode chamar os outros de princesa, só eu!



Essa tal de genética é um negócio hereditário mesmo.









Direto na têmpora: Beside you - Iggy Pop

terça-feira, maio 17, 2011

Duas bonitinhas da Sophia

Anteontem perdemos uma pessoa da família e fomos explicando para a minha Sophia que tio Paulinho (tio-avô dela) havia virado estrelinha e que por isso estávamos tristes, etc. Aí, bem na hora de dormir, Fernanda e ela tiveram um diálogo mais ou menos assim:



- Mamãe, vamos rezar pro tio Paulinho ser bem feliz na casinha nova dele?



- Vamos sim, Sophia.




Rezaram e depois a pequena continuou.



- Mamãe, bichinho quando morre vira caveirinha, não é?



- É, sim, filha.



- E porque é que a gente vira estrelinha?



- A gente vira caveirinha também, filha, mas é que tem uma coisa dentro da gente chamada alma que faz a gente sentir e pensar que vai pro Céu e vira estrelinha.



- É o coração?



- Não, é outra coisa...




Foi daí pra cima. E eu que não participei do papo fiquei feliz por saber da curiosidade dela, do carinho dela com o Paulinho e mais feliz ainda porque não ter que responder essas coisas complicadas que eu mesmo não entendo.





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Hoje a minha Sophia escutou Adele pela primeira vez. A música terminou e ela pediu pra repetir.



Depois da segunda audição de "Someone like you" eu coloquei outra música e ela perguntou:



- É a mesma moça?



- É, sim.



- A voz dela é liiiiinnnndaaaaa.




É mesmo, Sophia, e se você leitor pasteleiro não conhece, olha aí.













Direto na têmpora: No more "I love yous" - The Lover Speaks

A ilusão do vôo

Acabo de assistir a duas animaçõezinhas bem legais sobre a ilusão do vôo. Essa ilusão que a gente tem de poder ir mais alto do que seria humanamente possível, de contrariar a física e inventar um rumo que exija asas e não pés.

Uma teimosia de que a queda não é fim, mas o começo de uma nova trajetória que nos suspende até algum lugar onde somos livres.

A sensação de que somos leves, quase imateriais e de que nossos caminhos são o espaço aberto e não as trilhas pré-traçadas.

Às vezes é fundamental alimentar essa ilusão do vôo e acreditar que as leis da física são meras sugestãoes.

Os dois filmezinhos estão logo aí abaixo pra vocês conferirem também.


The Diver from James Lancett on Vimeo.



Le nuage from Pierre Clenet on Vimeo.





Direto na têmpora: Going, going, gone - Infectious Grooves

segunda-feira, maio 16, 2011

Eternos 3 anos de idade

Certas pessoas nunca ultrapassam os seus 3 anos de idade. Gostam de ver sempre as mesmas coisas, de ler sempre os mesmos livros, de brincar sempre nos mesmos brinquedos.

Extraem um grande prazer não da variedade, do inusitado, do ousado, mas da repetição. Confortam-se com a segurança de ouvir as mesmas expressões, de seguir a sequência que tranquiliza, de encontrar o reconfortante final sem surpresas.

Gente assim é fundamental em determinados cargos em que a constância e a repetição de ações mostram-se fundamentais, mas quando trabalham com marketing ou comunicação produzem os maiores desastres. São inimigos convictos da criatividade, defensors de fórmulas que possam ser usadas milhares de vezes em qualquer situação, avessos ao risco.

São crianças de 3 anos rindo das piadas que já conhecem, teimando em pasteurizar a mensagem, negando-se a entender que o mundo não é seguro, não é imutável, não é só deles e não é aconchegante como o velho dvd que se assiste pela milhonésima vez.




Direto na têmpora: The greatest - Cat Power

Novidades do mundo de Sophia

Minha Sophia vai ganhar um cachorrinho Dachshund (Teckel) de pêlo duro. Uma fêmeazinha que ela viu no final de semana e pela qual já se apaixonou.

Minha Sophia agora tem janelinha. Nunca vi alguém tão feliz por perder um dente.

Minha Sophia estava saindo da casa dos meus pais em uma noite gelada de sábado, entrou no carro correndo e pediu pra mim:

- Porquinho, liga o ar bem quentinho, bem quentinho? Quentinho igual a um sol. Quentinho igual a um dia na praia!






Direto na têmpora: Rainbow in the dark - Dio

sexta-feira, maio 13, 2011

Bacon and Hobbes

Uma homenagem do pessoal da "Pants Are Overrated " a um dos meus personagens favoritos: Calvin.






Direto na têmpora: Song 2 - Blur

Romantismo

Fernanda:
- Que música é essa?

Eu:
- É do Cake.

Fernanda:
- Cake? Não tô gostando, não.

Sophia entra na conversa:
- É, papai, a mamãe só gosta daquelas cosias beeeeem românticas...



PS - Enfim o blogger voltou e tô conseguindo postar, mas alguns comentários e o post de ontem desapareceram. Um saco, mas é assim.





Direto na têmpora: Let me go - Cake

quarta-feira, maio 11, 2011

Jabá total

Eu hoje acordei com vontade de fazer jabá. Vou recomendar empresas das quais eu gosto como recomendo livros: sem ganhar um puto. Quem quiser que faça bom proveito.

Se você gosta de pizza, indico a "Domenico Pizzeria", que além de uma senhora pizza ainda tem a promoção de compre um vinho e leve outro igual. Vale muito a visita.

Se você curte uma empresa criativa e com uma linha de produtos (principalmente) infantis que são de deixar a gente doido, tem que conhecer a "Gatos Pingados". Ah, e eles estão com promoção.



Ainda sobre crianças, se você curte livros infantis e espaços criativos, visite a "Livraria Corre Cutia", que além de ser uma delícia de lugar, tem meus livros.

Claro que tem mais lugares, lojas e marcas que mereceriam uma jabazada gratuita, mas aí eu deixo a indicação pra quem resolver perguntar. Fiquem à vontade.




Direto na têmpora: Grown so ugly - The Black Keys

Matutina

Sophia acorda hoje naquela preguicinha e pede pra dormir mais um pouquinho.

- Papai, quando você sair deixa só uma flechinha de luz na porta do quarto, tá?





Direto na têmpora: Right here, right now - Jesus Jones

terça-feira, maio 10, 2011

Confuso

Tem gente que confunde inveja com admiração. Tem gente que confunde ciúmes com amor.

Tem gente que confunde opinião com verdade, desejo com necessidade, proximidade com amizade.

Tem gente que confunde emprego com identidade, tem gente que confunde sorriso com permissão e um abraço com perdão.

Tem gente que confunde um talvez com um sim e uma possibilidade com uma certeza.

Tem gente que confunde privacidade com isolamento e abuso com liberdade.

E quer saber do que mais? Tá tudo certo, a vida é confusa mesmo.




Direto na têmpora: The prettiest star - David Bowie

O olhar criativo

Darei duas palestras este mês sobre o olhar criativo. Escolhi o tema porque ainda me impressiono com quantas pessoas se autodefinem como "não-criativas" ou "pouco criativas".

É muita gente que ainda não percebeu que a criatividade é um exercício diário e que está muito além da função (no caso da propaganda) do redator e do diretor de arte.

Eu considero que olhar criativamente para as coisas, raciocinar de maneira nova sobre um velho problema, buscar a inovação nos relacionamentos são obrigações de praticamente todo profissional.

Para mim, alçar a criatividade ao status de privilégio de poucos é um equívoco que muitas empresas, de qualquer segmento, ainda cometem e tendem a continuar cometendo.

Dito isso, criatividade também requer um exercício de humildade. É preciso ouvir que a ideia não é boa, que o processo não funciona, que alguém achou um caminho melhor.

E, principalmente, ser criativo não quer dizer de maneira alguma que você tenha direito de mexer no meu texto, porra!



PS - Tirando o último parágrafo que é obviamente uma brincadeira, o resto do texto tá valendo e eu assino embaixo.





Direto na têmpora: I'm on standby - Grandaddy

segunda-feira, maio 09, 2011

O acordeão

Minha Sophia tem um bom ouvido musical. Não é nada excepcional, mas ela já liga o pandeiro instintivamente ao samba, a guitarra ao rock, o violino à música clássica e vai assim construindo seu arquivo de sons e suas correlações cada vez mais complexas.

Pois outro dia, ouvindo um tango, Sophia escutou um acordeão e, sem familiaridade com o estilo musical hermano disparou:

- Isso é música de festa da junina, né?



PS - Eu sei que o instrumento usado no tango é o bandoneón, mas como ele é um instrumento de fole e como aqui no Brasil dizemos acordeão ou sanfona, optei por valorizar a piada e não me concentrar nos detalhes. De qualquer forma, obrigado ao marco que percebeu e comentou a questão.




Direto na têmpora: Pretty ballerina - Eels

sexta-feira, maio 06, 2011

Meu conselho para as mães

A todas as mães do mundo, um conselho: sejam como a minha própria mãe, que ao me ver chegar com o fruto da minha inabilidade, sempre mostrou-se carinhosa.

Minha habilidade manual compara-se a de um ser desprovido de polegares opositores. E eu não estou exagerando.

Meus vergonhosos vasinhos de cerâmica, por exemplo, poderiam ser confundidos com uma nebulosa ou com os resto mortais de um guaxinim.

A bem da verdade, tudo o que eu produzia chegava purgando cola branca, cheio de ângulos estranhos e materiais que, definitivamente, não deveriam estar ali. Receber uma obra de arte minha era como ganhar um passe para vislumbrar diretamente algum canto esquecido do inferno.

E no entanto, ó amor materno, minha progenitora sempre recebeu todos estes abortos criativos com o mesmo olhar carinhoso e as mesmas palavras amorosas:

- Que lindo, meu filho. O que é isso mesmo?





Direto na têmpora: Bayern - Die Toten Hosen

O bigode da bruxa

A bruxa Zita vivia em uma casa velha e escura, bem no meio da floresta. As amigas dela já tinham todas se mudado, mas a bruxa Zita continuava morando ali sozinha, longe de tudo e de todos.

Sabe o que é? É que a Zita tinha um pouco de vergonha de sair dali por causa do seu bigode. Sim, é a mais pura verdade, a bruxa Zita tinha um bigodão de meter medo em qualquer um. E nem em bruxas isso é legal.

Do outro lado da cidade, bem longe da floresta, Marcos estava morrendo de tédio. Não achava mais graça na televisão, não se divertia mais com seus jogos eletrônicos, nem descia para o playground do prédio para brincar.

Na verdade, Marcos queria era sair por aí, ver pessoas diferentes, conhecer lugares novos, viver aventuras. Mas ao invés disso, todo mundo dizia que ele era muito criança e Marcos apenas suspirava e brincava de novo com o game que ele já conhecia de cor.

Só que o tempo passou e, como todo mundo sabe, a vida é cheia de coincidências. O dia em que Marcos resolveu fugir de casa foi exatamente o mesmo dia em que a Zita decidiu largar seu cantinho solitário e correr mundo.

E aí, justamente porque a gente vive se encontrando e desencontrando por aqui e por ali, o menino Marcos e a bruxa Zita deram de cara um com o outro exatamente à meia-noite, na praça mais bonita da cidade.

Foram dois sustos grandes. Quer dizer, o Marcos tomou um susto grande e a bruxa Zita teve uma surpresa grande. De qualquer forma, os dois ficaram muito espantados.

- Gente, mas é um menino... o que será que ele está fazendo por aqui? - pensou a bruxa.

- Uau! É uma bruxa! E que bigode enorme! - foi o que pensou o Marcos.

Um ficou olhando para o outro sem saber o que falar, sem saber o que fazer e então, como se tivessem combinado, ele sentou na ponta de um banco e ela sentou na outra.

Ele tentava parecer mais alto, fazia cara de adulto e fingia não ter medo. Ela olhava pros lados, tentava esconder o bigode com a mão e fingia procurar alguma coisa em sua sacola.

Depois de alguns minutos, Marcos não aguentou mais de curiosidade e perguntou:

- A... a... a... a senhora é uma bruxa?

- Sou sim - disse a bruxa Zita tentando parecer simpática. Meu nome é Zita, muito prazer.

- Meu nome é Marcos - o menino respondeu baixinho. Você mora por aqui? Eu não sabia que havia bruxas na cidade.

- Bom, na verdade eu moro na floresta lá longe.

E com um olhar triste, Zita completou:

- Quer dizer, morava...

- Você fugiu de casa? Eu também fugi.

- Bom, eu acho que eu não fugi de casa. É que eu moro sozinha e não dá pra fugir de casa se não tem mais ninguém em casa, né?

- É, mas você pode estar fugindo de alguma coisa que não é uma pessoa. Pode fugir de um medo, de uma briga, de muito barulho, de um monte de coisas.

Os dois então falaram juntos:

- Da solidão...

Daí pra frente, eles foram conversando e sabendo cada vez um pouquinho mais sobre a vida do outro.

O Marcos ficou sabendo que a Zita tinha vergonha do bigode, que quase não saía de casa por isso, que era uma bruxa ótima em fazer poções de troca e que adorava morcegos e teias de aranha bem compridas.

A Zita ficou sabendo que o Marcos também era muito sozinho, que passava o dia inteiro no quarto, que detestava ser tratado como criança, que era fã de Harry Potter e odiava couve.

Falaram tanto, tanto, tanto que quando deram por si (ou será que é por sis?) já estava amanhecendo. A Zita então puxou sua capa e os dois dormiram naquela cabaninha, bem debaixo da estátua, sem que ninguém percebesse.

Os dois acordaram no meio da tarde e, talvez porque houvesse algum feitiço na capa da bruxa, ninguém incomodou os dois. Era um dia de sol e lá foram eles arranjar o que comer.

Marcos ofereceu um cachorro-quente para a Zita e ela, que nunca tinha experimentado, provou e adorou.

Zita fez um guisado de olhos de calango e o Marcos, por educação, teve que provar um pouquinho, mas achou tão delicioso que comeu tudo e ainda repetiu duas vezes.

Resolveram sair daquela cidade e continuar andando por aí. Conheceram lugarejos frios e antigos, passaram por cidades quentes e cheias de gente, brincaram no meio de vilas abandonadas e foram aprendendo um com o outro pelo meio do caminho.

Marcos aprendeu a fazer um guisado de calango quase tão bom quanto o dela e Zita já sabia todos os truques para arrebentar no Super Mario Kart. Ficaram amigos, mas amigos mesmo, como se sempre tivessem estado um do lado do outro.

Mas o tempo passa, a saudade aperta e a vida tem um jeito todo especial de lembrar a gente das coisas que ficaram para trás. Marcos andava com vontade de abraçar seus pais e Zita até sonhava com os longos vôos de vassoura ao lado das suas amigas.

Sem que nenhum dos dois precisasse falar nada, eles já sabiam que estava chegando a hora de dizer adeus.

Os dois tinham mudado muito naquele tempo juntos: estavam mais confiantes, mais corajosos, mais felizes. E um não queria ir embora sem dar um grande presente pro outro.

Nenhum dos dois se lembra (ou talvez se lembrem, mas não queiram contar) de quem foi a ideia da troca, mas o fato é que foi coisa de gênio. A Zita fez uma de suas famosas poções de troca e ziiiiiiiiiiiiinnnnnnnng! Seu bigode foi parar no rosto do Marcos!

Tá certo que na troca ela ganhou algumas espinhas do menino que já estava virando adolescente, mas nem ligou. Em bruxas, espinhas e verrugas são até charmosas. E o Marcos ficou felicíssimo com seu bigode novinho em folha que o fazia parecer mais velho, mais forte, mais poderoso.

Dizem que os dois choraram em silêncio na hora de partir, mas como um estava de costas pro outro, ninguém tem certeza se foi verdade ou não.

Zita reencontrou suas amigas e viveu mais dois mil anos fazendo feitiços, criando aranhas, voando de vassoura e, de vez em quando, se trancando por horas no quarto para jogar Super Mario Kart.

Marcos virou o rei da turma com seu belo bigode de bruxa e com as histórias incríveis que tinha para contar, mas volta e meia ainda ficava quieto, calado no seu canto.

Era um pouco de saudades, um pouco de tristeza, mas era algo mais também.

Ninguém me contou, mas eu sei, que o que o Marcos tinha mesmo era uma vontade danada de comer o guisado de olhos de calango que só a Zita sabia fazer.




Direto na têmpora: Flores - Cafe Tacuba

quinta-feira, maio 05, 2011

Um dinossauro, um quase-dinossauro e um mamute

Trina Tricerátopo

Tricerátopos são dinossauros chifrudos
E com a pequena Trina também é assim
Três chifres na testa muito pontudos
E a barriga bem cheia de comer capim

Mas um dia ela teve um problema profundo
Quando encontrou pela frente um estranho bichinho
Era o primeiro pássaro da história do mundo
Que viu a cabeça da Trina e fez o seu ninho




Erasmo Elasmossauro


Bem diferente e muito querido
Erasmo não era um dinossauro comum
Vivia na água, tinha pescoço comprido
E fazia bolhinhas quando soltava pum

Levantava a cabeça para respirar
Mas tinha um fôlego superfantástico
Se nascesse hoje em dia ia arrebentar
Na seleção americana de pólo aquático



Milton Mamute

Milton Mamute era um bicho pesado
Tinha patas enormes, admiráveis
Seu andar era firme e nunca apressado
E só comia vegetais muito saudáveis

Suas presas eram feitas de puro marfim
E seu pelo o protegia do frio assustador
Mas o clima esquentou, o gelo teve fim
E o pobre Milton quase morreu de calor




Direto na têmpora: I can't win - The Strokes

quarta-feira, maio 04, 2011

Rosa sobre azul

O dia se despediu com um traço de rosa sobre o azul e respingou de saudades alguma estrela que veio depois.






Direto na têmpora: Red Flags And Long Nights - She Wants Revenge

Jantares

Minha Sophia enrola muito pra comer. Não sei se é de agitação dela ou se é por falta de fome mesmo, só sei que se deixar um almoço dura 4 horas.

Pois outro dia, a pequena mal acordou e já veio falar comigo muito séria.

- Papai, eu conversei com a Sara e agora eu vou jantar no Clic só de manhã, tá?

- Mas, sophia, você não vai ao Clic de manhã.

- Eu sei, mas eu tenho que jantar de manhã senão não dá tempo de acabar.





Direto na têmpora: Common reactor - Silversun Pickups

Sei lá, eu achei lindo

Entre la lumière from ad on Vimeo.





Direto na têmpora: I think I love you - The Guggenheim Grotto

terça-feira, maio 03, 2011

Biblioteca Solidária 2011

Pessoal, vocês já conhecem o esquema. Estou colocando à venda livros que li ao longo do ano e o valor permanece o mesmo: um cobertor de casal (cerca de 17 reais).

Os livros estarão comigo e basta trazer o cobertor para levar (o que significa que é preciso estar em BH para participar). Ah, a preferência será dada àqueles que pedirem primeiro pela caixa de comentários ou pelo email mauriloandreas@gmail.com.

Os cobertores serão entregues à creche Morada Nova e distribuídos para pessoas carentes nas ruas de BH.

Muito obrigado e boa leitura.




- A escritora (Ethel Kacowicz)

- A felicidade conjugal / O diabo (Leon Tolstói)

- A ilha sob o mar (Isabel Allende)

- A queda (Albert Camus)


- As intermitências da morte (José Saramago)

- Coisas frágeis (Neil Gaiman)

- Coisas frágeis 2 (Neil Gaiman)


- Contos fantásticos (Guy de Maupassant)

- Cotoco (John van de Ruit)

- Diário reinventado (Eduardo Osório Cisalpino)

- Germinal (Émile Zola)

- Neverwhere (Neil Gaiman)

- No tapa (Leonardo Araújo)

- O animal agonizante (Philip Roth)


- Os espiões (Luis Fernando Veríssimo)


- Pais e filhos (Ivan Turguêniev)

- Seda (Alessandro Baricco)

- Talvez uma história de amor (Martin Page)

- Travessia de verão (Truman Capote)


- Três contos (Gustave Flaubert)




Direto na têmpora: Nome aos bois - Titãs

segunda-feira, maio 02, 2011

A duração do minuto

Um dito popular fala que a duração do minuto depende de que lado da porta do banheiro você está. E se nem a percepção do tempo, algo teoricamente bem claro, é imune a interpretações pessoais e valores relativos, nada mais está.

Por isso é impossível divisar com clareza o que ofende e o que faz rir. O senso comum, o óbvio, o absurdo variam de cultura para cultura, de pessoa para pessoa. E existem ainda aqueles que optem por esticar os limites, ser ofensivo por escolha, como forma de provocar, de gerar discussões, questionamentos, mudanças.

É engraçado como o mesmo comentário sobre, digamos, o PT, causa reações diferentes de dois petistas com a mesma orientação política, tempo de atuação, etc. Um ri, outro se enerva. Um entende como piada, outro acha um absurdo direitista.

Enfim, é impossível agradar a todos e este certamente não pode ser o objetivo de quem quer que esteja nas redes sociais.

De qualquer forma, segue um vídeo do humorista Seth Meyers em um evento da Casa Branca acontecido ontem. A diferença entre as reações do Obama e do Trump quando são zoados dizem tudo.







Direto na têmpora: Hit me with your best shot - Pat Benatar

Teorias da Conspiração

Mal Osama Bin Laden foi declarado morto e começaram as teorias conspiratórias dizendo que sem fotos do corpo, filmagens, etc tudo não passa de uma grande farsa.

Claro que todos nós sabemos que mentir sobre um fato não seria algo exatamente raro na história do Governo Americano (procure no Google: "Bush" e "weapons of mass destruction"), mas me parece um risco tolo a se correr apenas por um impulso na popularidade.

Vamos supor que seja tudo mentira. Obama ganha popularidade, fica favoritíssimo à reeleição e começam a pipocar vídeos de Osama segurando jornais do dia na mão, dizendo que tudo não passa de mentira dos porcos imperialistas e que o povo americano vai sofrer as consquências.

Duvido muito que o governo dos EUA fosse encarar um risco assim. E, acredite, se Bin Laden está livre e vivo, ele não vai deixar uma mentirinha tola assim passar em branco.

Por isso, por mais que ache que teorias conspiratórias dão bons filmes, prefiro passar o ônus da prova ao falecido (ou não) Osama. Se estiver vivo, apareça e acabe com mais uma grande mentira patrocinada pelo poder dos EUA. Se morreu, aproveite as virgens.

Eu, na minha modesta opinião terceiro mundista (inocência?), duvido que alguém se arriscaria a um blefe desse tamanho, com tantas chances de dar errado e que coloca tanta coisa em risco.




Direto na têmpora: Metal heart - Cat Power

domingo, maio 01, 2011

Anatomia Sophística

- Papai, tô com uma dor bem aqui na "cinturinha" do pé.


Nota do tradutor: na anatomia Sophística, "cinturinha" é aquela parte mais fininha, bem no final da perna, onde a canela se liga ao pé.




Direto na têmpora: Shattered shine - Crystal Stilts