terça-feira, janeiro 13, 2009

Uma outra Liras de Sintra

Em Liras de Sintra, a cegueira dói um pouco menos do que em outros sítios. Não se perde muito dos telhados de um vermelho acanelado ou da mesquita cambiada em igreja. Em Liras de Sintra, o não enxergar compensa-se.

A própria luz baça não clama à visão em Liras de Sintra, e o sabor dos vinhos ou o sal marinho na face não se perdem por não ver.

A Jonas de Bastos nasceram-lhe os olhos sem uma luz sequer. Adivinha o amadeirado das casas, o abrutalhado das ladeiras, o profundo do triste que há em sua cidade. As Liras de Sintra de Jonas de Bastos são outras e ainda as mesmas de quem ali vive.

Trabalha no mais delicado artesanato de velas e a cera faz-se amiga das pontas dos dedos delicadas, capazes de auscultar com medida os desejos da matéria inerte. Vende-as para usos toscos, de casas pobres e assim sustenta-se. Come seu peixe, mastiga seu pão e bebe seu vinho. Faz da lida o seu viver e nada mais vive.

Jonas de Bastos não vê o uso pouco que se faz de sua arte. E nem se importa. Seu ofício é dar forma à luz e assim cumpre o seu enxergar.




Direto na têmpora: Dance on Glass - The Sisters of Mercy

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonito, mas triste!

redatozim disse...

As coisas de Liras de Sintra são meio melancólicas mesmo, ndms. E pelo jeito os leitores não gostam muito também.

Anônimo disse...

Nada disto Redatorzim, Consegui sentir até o cheiro de Liras, uma vontade enorme de estar lá....
Não me lembro das outras descrições,mas parecia uma cidade litorânea...
Bjs,

redatozim disse...

Obrigado, Fê, mas acho que não é mesmo o estilo para o pastelzinho, talvez em outro ambiente virtual, quem sabe.

Jonga Olivieri disse...

Só mesmo dizendo como Gil Vicente: "Oh deus, ih, ué!"...
Don Oliva

Anônimo disse...

Redatozim, favor considerar que nas mensagens tristes pode se encontrar também um ambiente fertil para a reflexão. Eu gosto!

redatozim disse...

Aaaahhhhn, tomara que isso seja bom, Don Oliva.

redatozim disse...

Pois é, ndms, talvez seja questão de lugar. Nada contra os textos, talvez só não devam estar aqui.