Em Liras de Sintra, a cegueira dói um pouco menos do que em outros sítios. Não se perde muito dos telhados de um vermelho acanelado ou da mesquita cambiada em igreja. Em Liras de Sintra, o não enxergar compensa-se.
A própria luz baça não clama à visão em Liras de Sintra, e o sabor dos vinhos ou o sal marinho na face não se perdem por não ver.
A Jonas de Bastos nasceram-lhe os olhos sem uma luz sequer. Adivinha o amadeirado das casas, o abrutalhado das ladeiras, o profundo do triste que há em sua cidade. As Liras de Sintra de Jonas de Bastos são outras e ainda as mesmas de quem ali vive.
Trabalha no mais delicado artesanato de velas e a cera faz-se amiga das pontas dos dedos delicadas, capazes de auscultar com medida os desejos da matéria inerte. Vende-as para usos toscos, de casas pobres e assim sustenta-se. Come seu peixe, mastiga seu pão e bebe seu vinho. Faz da lida o seu viver e nada mais vive.
Jonas de Bastos não vê o uso pouco que se faz de sua arte. E nem se importa. Seu ofício é dar forma à luz e assim cumpre o seu enxergar.
Direto na têmpora: Dance on Glass - The Sisters of Mercy
8 comentários:
Muito bonito, mas triste!
As coisas de Liras de Sintra são meio melancólicas mesmo, ndms. E pelo jeito os leitores não gostam muito também.
Nada disto Redatorzim, Consegui sentir até o cheiro de Liras, uma vontade enorme de estar lá....
Não me lembro das outras descrições,mas parecia uma cidade litorânea...
Bjs,
Obrigado, Fê, mas acho que não é mesmo o estilo para o pastelzinho, talvez em outro ambiente virtual, quem sabe.
Só mesmo dizendo como Gil Vicente: "Oh deus, ih, ué!"...
Don Oliva
Redatozim, favor considerar que nas mensagens tristes pode se encontrar também um ambiente fertil para a reflexão. Eu gosto!
Aaaahhhhn, tomara que isso seja bom, Don Oliva.
Pois é, ndms, talvez seja questão de lugar. Nada contra os textos, talvez só não devam estar aqui.
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