sexta-feira, setembro 28, 2007

Baile

Ele sentado à mesa, bebericando um whiskey e remoendo o incômodo do terno novo, repara na moça de azul que dança alguns metros à frente. A gravata amarela e o cabelo engomado lhe dão confiança (o whiskey também, por supuesto) e Jorge, de pé, convida outra garota.

Sem desviar os olhos da moça de azul, Jorge conduz sua dama pelo salão. Rodopia desajeitado e, embriagado, sorri exageradamente, imita um galã qualquer do cinema francês.

A garota com quem Jorge dança ostenta um olhar aborrecido, engole um bocejo e observa a decoração que começa a ruir. Seu nome é Marina e essa foi a sua última dança, chata e sem graça como o casamento de anos que viveriam depois. A gravidez no estacionamento do baile, Jorge com o mesmo terno no dia da cerimônia e o indissolúvel se fez. A moça de azul ainda a rodopiar, numa lembrança dia a dia mais nítida.




Direto na Têmpora - Monkey Man - The Specials

6 comentários:

Anônimo disse...

Murilaço meu camarada,
por ser fã dos seus textos, faço a seguinte pergunta: Quando o Incultos 2 vai as bancas?

Aguardo ansiosamente.

Abç

redatozim disse...

Muito obrigado, Pegas. O livro já tem título, já tem conteúdo, já tem até quem faça a capa, só falta a editora mesmo. Arranja uma?

Anônimo disse...

Estas suas duas historinhas, vistas de pontos diversos (o ângulo dele e o dela), lembrou-me os filmes do diretor francês André Cayette. Dois filmes que compunham “A vida conjugal”, e que no Brasil passaram como “Confissões de um homem casado” e “Confissões de uma mulher casada” com Jacques Charrier e a belíssima Marie Josée-Nat*, e que tiveram uma estréia engraçada aqui no Rio. Estavam inaugurando dois cinemas-gêmeos na praia de Botafogo. O Coral e o Scala. Cada um passava um filme. Eu assití um numa sala e na sessão seguinte pulei para a sala ao lado e assisti o outro. Depois viraram um tremendo “basfond” e não dava nem para passar pela porta. Hoje, reformado é o Unibanco Arteplex, excelentes cinemas da cidade.

(*) Não muito conhecida hoje, embora ainda atue no cinema francês, que, graças à indústria hollywoodiana não é muito exibido entre nós.

redatozim disse...

Don Oliva, esse recurso dos dois pontos-de-vista, quando bem utilizado, pode ficar bem bacana mesmo. Não sei se é o caso dos textinhos, mas com certeza é o dos filmes.

Anônimo disse...

Duas historinhas que utilizaram o recurso com uma maestria exemplar, pode ficar certo disso, Redatozim...

redatozim disse...

Valeu!