segunda-feira, junho 11, 2007

Capítulo 1

Na rua Belisário Cortez, bem ao lado da funerária, ficava o Bar do Neco. Na esquina de baixo, a rua da zona com suas casinhas em seqüência, quase todas de paredes cor-de-rosa ou verde-claro, cortesia das tintas distribuídas há uns 6 ou 7 anos por um comerciante local que queria melhorar o aspecto da região.

Era uma rua asfaltada, limpa, de iluminação amarelada. O movimento já fora bem maior e hoje as mulheres exageradamente maquiadas e exiguamente vestidas chamam menos a atenção do que os avisos de “residência familiar” dependurados em alguns portões para evitar as confusões dos bêbados ou novatos durante a madrugada.

Todas as quartas o Renato saía do Bar do Neco depois de tomar uma cerveja com o pessoal da gráfica e descia a rua. O olho puxava para a esquina. Renato tinha 18 anos e não conhecia ainda uma mulher. Seu namoro com a Cida era sério e só sério, já que ela brecava suas vontades com um fervor religioso que refletia a educação e as cobranças da família. Olhava, o corpo adernava, imantado, mas o pudor vencia e Renato rumava pra casa com o passo calmo das noites de quarta-feira.

A avó já dormia, inundando a salinha de um ronco forte. Na geladeira um pedaço de queijo, um copo de leite e o corpo pedia cama. Escovava os dentes com uma pressa pouco higiênica e começava a rezar enquanto bochechava e preparava-se para cuspir o dentifrício: amanhã era quinta e quintas são dias bons.

Acordava com a avó cantando um samba antigo, o mesmo de todas as manhãs: “E quando à Terra eu voltar, sei que estão me esperando, numa prova de alegria eu vou chegar sambando”. Achava aquilo muito estranho, misturar samba com viagens espaciais e ainda mais com a avó cantando, mas gostava e sorria, era seu melhor jeito de começar a manhã. O pão quente com muita manteiga e o café forte enchiam o estômago e mandavam Renato pra rua. Quintas-feiras são boas.




Direto na têmpora: Uma barata chamada Kafka - Inimigos do Rei

10 comentários:

Renata Livramento disse...

hum...hj é dia dos namorados, merece uma poesia do nosso amigo q eu não sei escrever o nome, ahahahahahh
Bjo e feliz dia dos namorados pra vc e pra Fernanda!!!
bjos

redatozim disse...

Essa é a segunda encomenda do dia, Rê. A sua é pedindo um poema do Guiñazú, a outra é do Gastão pedindo um comentário sobre a situação da Venezuela. Entendeu porque eu definitivamente prefiro as mulheres (ou no meu caso, a mulher)?
Obrigado e aproveite o dia dos Namorados ambém. Beijo.

Anônimo disse...

quinta é muito melhor que segunda. apesar do quê, na quinta faltam apenas três dias pra próxima segunda, enquano que na segunda ainda faltam seis.

redatozim disse...

Eu gosto de quintas, mas bom mesmo são os sábados, domingos e feriados. E por que é que ninguém ainda fez um projeto para a semana de 4 dias no congresso nacional é que eu não consigo entender.

Anônimo disse...

terceira encomenda: um haikai com aliteração e que contenha a palavra pindamonhangaba.

redatozim disse...

Pensei em um haikai:

Pelada em Pindamonhangaba
Na zaga Zega zanga e zanza
Êta menino veado.


Gostou?

Anônimo disse...

gostei. =(

redatozim disse...

Do haikai ou do capítulo 1? E o José é o Zega ou é o Zé Carlos? Santa crise de identificação, Batman.

Anônimo disse...

Seus textos andam melhores a cada dia.

redatozim disse...

Brigadão, Dri. Só porque você elogiou, daqui a pouco chega uma surpresinha aí no seu email.