quarta-feira, maio 07, 2008

In a world of monsters

Roubo o título deste post do (excelente) cd dos The Drovers, para me referir a este comentário do nosso querido austríaco do porão. Segue o trecho retirado do Terra.

Josef Fritzl, o pai que confessou ter seqüestrado e estuprado a filha durante 24 anos no porão de casa na Áustria, afirmou que não é um monstro, em uma mensagem divulgada por seu advogado.
"Não sou um monstro", afirma Fritzl no texto enviado pelo advogado Rudolf Mayer ao jornal Osterreich. "Poderia ter matado todos e não teria acontecido nada, ninguém nunca ficaria sabendo".



Sim, eu mutilei um mendigo por prazer, mas não sou um monstro, poderia ter ateado fogo nele e ninguém saberia.

Sim, eu vendo drogas na porta das escolas, mas não sou um monstro, poderia vender armas também e ninguém saberia.

Sim, eu desvio dinheiro de obras como hospitais e escolas, mas não sou um monstro, poderia ser cliente de prostituição infantil e ninguém saberia.

Que porra é essa? Vivemos em um mundo de monstros? Enquanto Sophia pede pra ver o esqueleto e fica vidrada assistindo ao Estranho Mundo de Jack (mesmo que em inglês), enquanto a preocupação dela é com o boi da cara preta e com o mosquitão, eu tento não deixar que ela perceba que o mundo é, sim, um lugar cheio de outros monstros muito mais horríveis.

E nesse mundo cheio de monstro a gente é pequeno, filha, e não sabe o que fazer 99% do tempo. O erro é companheiro inseparável, a dúvida é irmã de caminhada e eu peço a Deus e a todas as forças que seja capaz de te proteger dos monstros, minha Sophia. E se eu conseguir algo perto disso, morrerei com a sensação do dever cumprido.

Se alguém aí tiver paciência, leia o tocante texto do Bill Simmons sobre um pai e seu "18-Year Plan".




Direto na têmpora: Lembranças - Marco Antônio Araujo

8 comentários:

Anônimo disse...

O pior de tudo é que as monstruosidades ocorrem tanto e cada vez mais no dia a dia que é perigoso tomálas como coisas normais, coisas rotineiras e, daí, vai a sensibilidade humana para o beleléu

Anônimo disse...

Faço das suas palavras as minhas....

redatozim disse...

Sim, quando tudo vira normal, quando o chocante passa a ser corriqueiro é a hora de pendurar as chuteiras, ndms.

redatozim disse...

Uma merda ter que falar sobre isso, Danny.

Unknown disse...

Normalmente morro de rir aqui no pastelzinho, normalmente minha tendência e refletir muito sobre as coisas que você escreve. Hoje eu chorei, chorei sem nem perceber...tal vez o meu dia não tenha sido muito bom, talvez eu esteja mais sensivel as coisas que me deixam profundamente triste.
Eu corri para beijar o Gabriel ( que estava dormindo) e prometer que vou continuar tentando ser uma maenzinha mais ou menos pra ele. Nesse mundo que louco que a gente vive é o unico que eu me sinto capaz de prometer.

redatozim disse...

E, infelizmente, é só isso que a gente pode fazer, micho. Que Deus nos ajude.

Anônimo disse...

No final das contas, quando escreveu "Frankenstein", Mary Shelley mostrou quão monstruosa é a sociedade.
A pobre 'criatura' chorou a sua desgraça frente ao seu "criador" o verdadeiro monstro.
Já em 1816 a sensibilidade de alguns captava essa monstruosidade intrínseca ao ser humano.

redatozim disse...

O ser humano sempre teve algo monstruoso em si, Don Oliva, mas nunca me pareceu tão perto.