quinta-feira, novembro 01, 2007

Um estranho

Acordou certo dia a tempo de ver a mulher se esgueirando para fora do quarto, um rastro de pavor na sombra deixada para trás.

Deu de ombros, voltou a dormir e só despertou com o ruído das sirenes, a polícia invadindo o quarto, a mulher e os filhos observando pela janela, o terror vívido em seus olhos.

Não conseguiu explicar o que fazia ali, na casa que dizia ser sua. Nenhum dos vizinhos o conhecia, os filhos também não. Foi solto por ser réu primário, reaprendeu um novo nome e vagou até alguma cidade.

Recomeçou a vida de outro jeito, esqueceu-se de sonhos e família, rotinizou-se. Era só ele agora. E ainda não sabia quem era.




Direto na têmpora: Immortality - Pearl Jam

4 comentários:

Anônimo disse...

Gosto demais dessas suas narrativas curtas e sutis sobre a humanidade em instantes de solidão ou "alucinação".
Esta está simplesmente genial.
Vá em frente...

Renata Livramento disse...

Adoro qdo escreve assim!!! É a sua cara, te traz para perto!
bjos e ótima semana pra vc e a família (Como vai a Sophia?)

redatozim disse...

Valeu, Don Oliva. Que bom que agradou.

redatozim disse...

Muuuiiiitooo obrigado, dona Renata. Sabe que comigo normalmente acontece assim: a ficção parece mais comigo do que a realidade. Acho que é por isso que tanta gente pergunta se o Incultos é inteiramente real, quando na verdade ele é 98% ficcional. Mas acho que as histórias que a gente conta dizem muito sobre como a gente pensa. Enfim, que bom que gostou. Ah, Sophia e Fernanda estão ótimas, grazie.