terça-feira, janeiro 04, 2011

Coisas do Incultos

Incultos, o livro que não existe mais, aparece mais uma vez no Pastelzinho, agora com uma semificçãozinha que eu escrevi: Belô Lugosi.


Não sou de Belo Horizonte, mas apesar da resistência inicial que tive com a cidade, tenho que reconhecer que aqui tem uns negócios realmente meio fora do padrão.

Pois às vezes BH também tem seu lado tétrico e parece um filme com Bela Lugosi, principalmente quando um se descobre no meio daquela neblina que chega de repente e tudo encobre e esconde.

E foi numa noite assim que me peguei voltando para casa em estado de semiporre pelas tortuosas ruas do Santa Lúcia. O vento me gelava o nariz e me fazia apressar o passo, mas nada que justificasse o quase trotar que passei a ouvir.

Era uma rua com poucas casas e muitos lotes vagos (como dezenas de outras no bairro), donde imaginei que pudesse ser um cavalo ou cachorro que a névoa mantinha invisível em algum matagal. No entanto, quando parei, o ruído também parou. Olhei para os lados procurando algum vulto ou sinal de movimento, dei de ombros e segui andando apenas para perceber que o ruído recomeçava.

Naquele momento, o álcool me encheu de coragem e, ao invés de sair em desabalada carreira, decidi perguntar em voz alta "Tem fogo, companheiro?". Sem receber resposta, ganhei ânimo e provoquei "Tá com medo de mim, amigo?". Dei uma risada sarcástica e voltei ao meu caminho, agora com passos mais firmes.

Mais uma vez o som de outros passos começou e desta vez resolvi não arriscar. Fosse desse mundo ou não, haveria de ter um foguete nos pés para me alcançar.

Cheguei em casa colocando o coração pela boca e pela primeira vez desde que comecei a correr olhei para trás. Mesmo tendo ouvido som de passos me acompanhando aceleradamente por todo o caminho, procurei e não havia ninguém por perto.

Abri o portão atabalhoadamente, tremendo com um misto de cansaço e pavor. Subi as escadas correndo, quase arrombei minha própria porta e dormi ali mesmo na sala, a luz acesa, a tv ligada.

Um sono agitado, constantemente interrompido pela sensação de uma companhia silenciosa que, mesmo agora quando escrevo, teima em me pertubar.





Direto na têmpora: Alcoholics Unanimous - Art Brut

6 comentários:

danny falabella disse...

adorei!delirios feelings!

redatozim disse...

eu morro de medo desses negócios que já morreram, danny

Leo Lodi disse...

Ou seja, foi uma ótima maneira de me dar notícias de você: continua bebendo, fumando, morando no mesmo lugar, andando a pé e com um tremendo cagaço de alma penada. Bom ter notícias de você!

redatozim disse...

Que nada, Leo. Primeiro que o conto foi escrito há cinco anos, segundo que eu nunca fumei, terceiro que eu vergonhosamente quase nunca ando a pé. A única verdade mesmo é o cagaço de alma penada. rsrs

Leo Lodi disse...

Então, parou de tomar umas? Que maravilha!

redatozim disse...

Parar 100%, não, mas hoje é muito raro.