Os políticos brasileiros sabem manter a calma sob pressão. O povo foi às ruas, gritou, esperneou, fez e aconteceu. Enquanto isso, nossos representantes esconderam as cabeças e escolheram uma posição confortável para esperar.
Ânimos esfriaram, ritmo de vida normal e, quando já era tranquilo agir, liberam Donadon de pagar por toda a roubalheira que cometeu.
Pode ser que nós, o povo, percebamos a vergonha, o desrespeito, a passada de mão na bunda e o tapa na cara que isso é e voltemos às ruas.
Mas eles já sabem o que fazer. Posição confortável e cabeça abaixada até o furacão passar, depois é só continuar o que estavam fazendo.
Direto na têmpora: So Here We Are - Bloc Party
quinta-feira, agosto 29, 2013
terça-feira, agosto 27, 2013
Entusiasta
O especialista sabe. O entusiasta pergunta.
O especialista conhece. O entusiasta procura.
O especialista executa. O entusiasta experimenta.
O especialista responde. O entusiasta conversa.
O especialista é profissional. O entusiasta é apaixonado.
Direto na têmpora: Let's Go Surfing - The Drums
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opinião
quinta-feira, agosto 22, 2013
Mapas
Délio
tinha uma mancha de nascença nas costas, logo abaixo da nuca. Talvez
por causa da localização, longe das suas vistas, nunca deu muita bola
pra ela nos primeiros anos de vida.
Até que um dia, já com seus 19 anos, uma namorada reparou:
- Dé, alguém já te falou que essa marca nas suas costas é igualzinha ao mapa da Fança?
Délio, que nunca tinha reparado no formato do mapa da França, respondeu que não, mas ficou pensativo com aquele comentário.
Os dias passavam e Délio cada vez mais se convencia de que aquilo só podia ser um sinal, uma indicação clara de que seu destino estava do outro lado do Atlântico, em Paris, Cannes ou em alguma cidadezinha do interior francês.
Começou a estudar a língua, informou-se sobre literatura, cinema, queijos e vinhos franceses e, assim que se formou em Turismo, partiu para encontrar o caminho que estava impresso em sua pele desde que nasceu.
No país novo conseguiu trabalho, fez amigos e, beirando os 30 anos, arranjou uma companheira francesa que, em sua mente, talvez fosse o grande objetivo daquela mensagem hereditária com a qual sempre convivera. Nunca mais voltou ao Brasil e tinha plena certeza de que toda a sua vida, cada minuto de sua existência, só fazia sentido por causa de Marie.
Casaram-se e já no primeiro ano ela engravidou. Com três anos de casamento veio o segundo pimpolho, mas, com a mesma mágica súbita que tudo começou, as coisas azedaram por volta do quinto ano.
Já não conversavam, a paciência de um com o outro rareava e as discussões entre eles ganhavam proporções gigantescas e faziam fama na vizinhança. Separaram-se após seis anos de união, não sem antes enfrentarem uma longa batalha judicial repleta de acusações mútuas e dor.
Era um homem ferido, traído pelos sinais.
Dali em diante já não se animava com relacionamentos românticos, desiludido pela peça que lhe havia pregado o destino, a maldita mancha que, na verdade, não era uma indicação de felicidade, mas o aviso de um desastre.
Viveu solitário e morno,sem grandes paixões, sem grandes momentos, sem grandes reviravoltas. Essa não era definitivamente a vida que esperava na França.
Aos 60 anos, em um exame de rotina, o médico comentou:
- Curiosa essa sua mancha nas costas. Alguém já te disse que ela tem o fomato do...
- Sim, do mapa da França. Eu sei...
- Mapa da França? Não, na verdade ela se parece com um mapa, mas não da França.
E mostrando a mancha através de um espelho completou o raciocínio de forma definitiva.
- Tá vendo? É o mapa da Alemanha sem tirar nem pôr. Perfeito!
E assim terminou a consulta, com Délio amargo, murcho, derrotado. Bem de saúde, sem dúvida, mas cheio de ódio pela antiga namorada dos 19 anos e sua terrível ignorância em Geografia.
Direto na têmpora: Ice Cream Truck - Casiotone For The Painfully Alone
Até que um dia, já com seus 19 anos, uma namorada reparou:
- Dé, alguém já te falou que essa marca nas suas costas é igualzinha ao mapa da Fança?
Délio, que nunca tinha reparado no formato do mapa da França, respondeu que não, mas ficou pensativo com aquele comentário.
Os dias passavam e Délio cada vez mais se convencia de que aquilo só podia ser um sinal, uma indicação clara de que seu destino estava do outro lado do Atlântico, em Paris, Cannes ou em alguma cidadezinha do interior francês.
Começou a estudar a língua, informou-se sobre literatura, cinema, queijos e vinhos franceses e, assim que se formou em Turismo, partiu para encontrar o caminho que estava impresso em sua pele desde que nasceu.
No país novo conseguiu trabalho, fez amigos e, beirando os 30 anos, arranjou uma companheira francesa que, em sua mente, talvez fosse o grande objetivo daquela mensagem hereditária com a qual sempre convivera. Nunca mais voltou ao Brasil e tinha plena certeza de que toda a sua vida, cada minuto de sua existência, só fazia sentido por causa de Marie.
Casaram-se e já no primeiro ano ela engravidou. Com três anos de casamento veio o segundo pimpolho, mas, com a mesma mágica súbita que tudo começou, as coisas azedaram por volta do quinto ano.
Já não conversavam, a paciência de um com o outro rareava e as discussões entre eles ganhavam proporções gigantescas e faziam fama na vizinhança. Separaram-se após seis anos de união, não sem antes enfrentarem uma longa batalha judicial repleta de acusações mútuas e dor.
Era um homem ferido, traído pelos sinais.
Dali em diante já não se animava com relacionamentos românticos, desiludido pela peça que lhe havia pregado o destino, a maldita mancha que, na verdade, não era uma indicação de felicidade, mas o aviso de um desastre.
Viveu solitário e morno,sem grandes paixões, sem grandes momentos, sem grandes reviravoltas. Essa não era definitivamente a vida que esperava na França.
Aos 60 anos, em um exame de rotina, o médico comentou:
- Curiosa essa sua mancha nas costas. Alguém já te disse que ela tem o fomato do...
- Sim, do mapa da França. Eu sei...
- Mapa da França? Não, na verdade ela se parece com um mapa, mas não da França.
E mostrando a mancha através de um espelho completou o raciocínio de forma definitiva.
- Tá vendo? É o mapa da Alemanha sem tirar nem pôr. Perfeito!
E assim terminou a consulta, com Délio amargo, murcho, derrotado. Bem de saúde, sem dúvida, mas cheio de ódio pela antiga namorada dos 19 anos e sua terrível ignorância em Geografia.
Direto na têmpora: Ice Cream Truck - Casiotone For The Painfully Alone
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quarta-feira, agosto 21, 2013
Caos
Tico ouviu um estrondo e imediatamente ficou alerta. Era
novo naquela região e de onde vinha, uma fazenda tranquila no interior do
Estado, esse tipo de barulho não era comum.
Tico havia chegado a Belo Horizonte coisa de dois dias atrás
e ainda se acostumava com os sons, as cores e os movimentos da cidade. Saiu de
casa praticamente uma única vez para uma consulta de rotina e de resto ficava
por ali, meio sem ter o que fazer no apartamento.
Poucos segundos depois, um novo estrondo. E mais outro. Uma
sucessão de explosões fez com que Tico corresse em busca de abrigo temendo o
pior. O que seria aquilo?
Circulou o apartamento pequeno, mas apenas confirmou o que
já sabia: estava sozinho. Tadeu havia saído mais cedo e deixado que ele
enfrentasse aquela loucura sem um único conselho ou dica sobre como agir.
O barulho não parava. Às vezes cedia e parecia que ia sumir
apenas para voltar com mais violência ainda.
Tico se encolhia e apavorava cada vez mais. Por onde andaria
Tadeu? Será que corria mais risco do que ele diante daquela balbúrdia?
Os minutos passaram como se fossem horas e Tico ali,
começando a madrugada sem pregar os olhos ouviu o barulho da porta. Ficou
indeciso entre correr para saber de Tadeu o que havia acontecido ou manter-se
seguro e encolhido em sua cama.
Ao ouvir a voz de Tadeu sentiu-se mais confiante e correu ao
seu encontro. O rapaz estava suado, agitado, cumprimentou Tico praticamente sem
olhar e seguiu para o quarto dando socos no ar, saltando, agindo como Tico
nunca tinha visto e como não conseguia compreender.
O barulho continuava e Tico aproveitou um momento de calma
em que Tadeu sentou-se na sala para subir em seu colo.
Só então o rapaz percebeu como seu cão devia estar realmente
assustado com aquela confusão toda.
- Ô, Tico, que susto, hein, garoto? Foi o Galo, Tico! É
campeão, pretinho! A gente é campeão, pô!
Direto na têmpora: I need fun in my life - The Drums
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terça-feira, agosto 20, 2013
Jogando o rebanho
Eu cresci ouvindo sobre a importância de ter um bom emprego. Sou de uma geração em que empreendedores eram gente com dinheiro pra investir em outro negócio e ganhar ainda mais grana.
Talvez por isso eu seja tão fascinado com o momento de grandes oportunidades para empreendedores que temos hoje. É algo tão distante da minha visão de mundo original que chega a me deixar pasmo.
O problema é que, se já era difícil jogar a vaquinha do penhasco quando eu era rapazinho, hoje fica mais complicado ainda botar pra rolar morro abaixo a ruminante nem tão gorda, mas que ainda dá leite que baste.
E tenho certeza de que muita gente sente o mesmo que eu, se apegando à falsa segurança de um emprego.
Ainda bem que o mundo mudou. Agora só me resta mudar também.
Direto na têmpora: Mayonaise - Smashing Pumpkins
Talvez por isso eu seja tão fascinado com o momento de grandes oportunidades para empreendedores que temos hoje. É algo tão distante da minha visão de mundo original que chega a me deixar pasmo.
O problema é que, se já era difícil jogar a vaquinha do penhasco quando eu era rapazinho, hoje fica mais complicado ainda botar pra rolar morro abaixo a ruminante nem tão gorda, mas que ainda dá leite que baste.
E tenho certeza de que muita gente sente o mesmo que eu, se apegando à falsa segurança de um emprego.
Ainda bem que o mundo mudou. Agora só me resta mudar também.
Direto na têmpora: Mayonaise - Smashing Pumpkins
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