segunda-feira, outubro 31, 2011

Quando éramos um

E então éramos um. Apenas um, com defeitos e qualidades conhecidos; limites, medos e certezas bem definidos; espaços demarcados; vida que seguia em um monólogo confortável.

De repente, do nada, veio o desejo de sermos dois e quem sabe três, quatro ou cinco depois. Uma operação antimatemática em que a soma das partes resulta magicamente em outro número um. Uma unidade. Somos nós, plural, mas somos singular, o casal.

Cabe a nós descobrir a receita inexata, falível e jamais repetida que faz um relacionamento funcionar. Nos vemos cercados de medidas delicadas para combinar ingredientes que nem sempre se misturam.

Erramos torcendo para que a fórmula não desande, para que não tenha sobrado maturidade ou faltado flexibilidade. Arriscamos, refazemos, tentamos, jogamos tudo para o alto e deixamos somente a bagunça do que restou e não fundiu, não criou, não germinou diante de nós.

Somos falhos. Talvez não tenhamos mesmo nascido para sermos este um que engloba dois, três ou cinco. Talvez sejamos feitos para seguir sós, comodamente únicos, inflexíveis, bem adaptados.

Mas eis que em meio à terra onde já não se vislumbra o fruto, ergue-se o gesto, descobre-se um sentido e pode ser que baste apenas uma palavra para que algo brote novamente. Uma vontade, um compromisso, um desejo que resolvemos por algum acordo imemorial chamar de amor.

Atentos! A colheita não é certa e o trabalho irá de novo nos fechar os olhos e castigar os sentidos.

Atentos, firmes, juntos. E novos. Imaculados. Límpidos e claros como deve ser um recomeço. Porque se não vale a pena tentar de novo por amor, mesmo que doa cada fibra do corpo e trema cada brilho da alma, nada mais há de valer alguma coisa.

E que lugar terrível seria um mundo assim para viver.



Para meus queridos amigos, muitas bênçãos, muita força, muito carinho e tudo o que possamos oferecer a vocês dois, a vocês quatro, a vocês UM.




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