Quando o papai chegou perto, seus gatinhos tinham acabado de nascer e já estavam mamando.
Uma fêmea pretinha, um machinho de cara branca e um casalzinho rajado.
- Quatro filhotinhos, meu bem. Parabéns!
Ainda cansada, a mamãe respondeu com um sorriso:
- Quatro, não. Cinco.
E empurrou com a patinha um filhotinho muito menor que os outros, menor até que um camundongo.
O pai, que nunca tinha visto um gato desse tamaninho, olhou meio ressabiado, cheirou e depois lambeu o filhotinho com o sorriso.
- Samir. É assim que vai se chamar o nosso pequenininho.
Samir foi crescendo, mas não importava quanto leite tomasse ou quanto peixe comesse, ele sempre era menor do que os outros gatinhos da sua idade.
Brincar era uma dificuldade. Se rolavam novelos, Samir era atropelado pela bola de lã. Se corriam atrás de algum brinquedo, Samir era pisoteado pelos irmãozinhos. Nem afiar as garras na cortina o Samir conseguia.
Acabou que o Samir foi ficando de lado, quietinho, sem brincar com ninguém. Até que um dia apareceu um ratinho e ficou olhando para aquele bicho do seu tamanho, mas muito diferente dele.
- Ei, rabo peludo, que bicho é você?
- Sou um gato, oras!
- Uma gato? Mas gatos são enormes e ferozes... minha mãe vive dizendo isso.
- Ah, é? Pois eu não sou grande, mas sou feroz sim, viu?
E deu um pulo para pegar o ratinho. Só que como não estava bem treinado como seus irmãos, Samir tropeçou e acabou levando um grande tombo.
O ratinho riu baixinho e disse:
- Olha, rabo peludo, eu não sei que bicho você é, mas gostei de você. Quer brincar com a gente?
Samir ficou pensando, olhou pra trás e viu os outros gatos grandes brincando sem nem se dar falta dele.
- Vamos, sim. Eu adoraria!
Daquele dia em diante, Samir virou o melhor amigo de Tito, o ratinho, e seus vinte irmãos. Brincavam de esconde-esconde dentro das paredes, corriam, se divertiam e todos ficavam muito impressionados com os saltos que Samir conseguia dar.
O tempo foi passando e Samir e Tito começaram a entender que eram gato e rato.
A família de Tito sempre vivia morrendo de medo de sair de casa por causa dos irmãos e dos pais de Samir. E cada vez que um dos outros gatos trazia algum bichinho na boca, Samir quase morria de susto imaginando que pudesse ser Tito ou algum de seus familiares.
Ainda se encontravam e brincavam em segredo, mas não dava mais pra continuar daquele jeito. Combinaram de reunir suas famílias no jardim e contar tudo.
Samir disse aos pais que queria dizer algo muito importante para eles bem debaixo da goiabeira. E o Tito disse a mesma coisa para seus parentes.
Quando os dois grupos chegaram no lugar marcado foi aquela confusão. Gatos arrepiados e fazendo sons ameaçadores, ratos correndo e se escondendo por todos os cantos.
Samir então começou a pular na buzina da bicicleta que estava largada no chão e começou a gritar.
- Parem! Parem todos vocês! Eu e o Tito queremos dizer uma coisa importante, poxa!
Gatos e ratos pararam, olharam para aquele gatinho pequenininho pulando na buzina e, muito desconfiados, foram se aproximando.
Samir então explicou que adorava ser gato, mas que por causa do seu tamanho, tinha aprendido a amar os ratos. Era com eles que ele brincava e se eles tentassem se conhecer um pouco mais, iam perceber que era só no tamamnho que eles eram tão diferentes assim.
É claro que demorou um tempo para as coisas se acertarem. De vez em quando algum gato se esquecia e nhac... abocanhava um rato. Mas depois se lembrava soltava o bichinho todo babado e pedia desculpas.
Alguns ratos também ainda tomavam sustos enormes quando davam de cara com aquelas patas gigantes de unhas afiadas.
Mas conversando eles foram se entendendo e começaram até a se ajudar. Os gatos contavam onde ficava escondido o queijo mais fresco e levavam pedacinhos para os ratos.
Os ratos iam de mansinho e avisavam se o cachorro do vizinho já estava dormindo para os gatos poderem cantar no muro.
E assim, foram tão felizes, mas tão felizes que ali a velha frase mudou de "brigando feito gato e rato" para "brincando feito gato e rato".
Essa história eu inventei só pro seu aplauso eu receber.
Se gostou, muito obrigado. Se não gostou, o chato é você.
Direto na têmpora: If I only had a brain - The Flaming Lips
6 comentários:
fino, cara!
Valeu, Ila.
Quando eu morava na França, tinha um amigo de Beirute que só conseguia chegar em casa com o apoio de um amigo de infância, palestino. O cara não deixava ninguém encostar no Farid. Na hora de voltar, o cara fazia o traslado de novo.
E o pau quebrando, em volta.
Lembrei dos Karkabi, com sua história.
...diz o PC soh pra falar que morou na Franca.
clap, clap, clap
Obrigadíssimo, Rute.
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