Os peixes abertos de tripas expostas serviam-se às aves e ao vento salgado de Liras de Sintra. Os braços ainda atracados às redes, as mulheres sempre em casa a esperar e o dia seguindo em um lento e insípido arrastar.
Ainda havia o sol quando Pedro Aires deitou-se à areia, mirando uma nuvem com certa forma familiar que ele teimava em não reconhecer. Atrás de si, os telhados de um vermelho acanelado pareciam respirar.
Em torno do seu pensar, tudo era Aurélia, embora ela não mais se houvesse em Liras de Sintra. Pedro Aires ainda pescava como ofício, ainda comia o que a mãe lhe preparasse, ainda era todo certeza de que sua vida ali lhe bastava.
E no entanto havia Aurélia a vestir-se em convite, desenhada em suor e desejo, e, na sua mente, o Porto já ganhava cores de futuro, já soava nome de algo real.
Direto na têmpora: All the beautiful things - Eels
4 comentários:
Bravo!
Obrigado, Julinha.
Se der mais um pouquinho de corda, isto vira um romance com forte apelo erótico.
Tô achando a Aurélia gata!!!
Ah, PC, seu onanista inveterado.
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