Ní era um craque de bola. Jogando com a 10 no time do seu bairro, tinha se tornado temido pelos adversários, respeitado pelos companheiros de time e adorado pela torcida.
Quando o Ní tocava na bola, era show garantido: passes precisos, dribles desconcertantes, um cabeceio certeiro e uma bomba na perna esquerda. Ní desequilibrava.
No entanto, mesmo com um futebol tão vistoso, Ní era a vítima preferida das gozações dos amigos. É que antes de toda partida era sempre o mesmo ritual: um passe de arruda pelo corpo, três beijos na figa, um trevo de quatro folhas no meião esquerdo e um patuazinho costurado dentro do calção.
O pessoal pegava no pé e não deixava o titular absoluto em paz. Ele, tentando manter a calma, respondia sempre: “seguro morreu de velho”. E o povo morria de rir das precauções do Ní.
Um dia, técnico novo no time. Uma semana de treinos e o Professor Bretinhas se encantou com o talento do Ní. Dia de jogo e o Ní começa a benzeção, patuá daqui, trevo dali, o Bretinhas se irritou:
- “Peraí, Ní, você é um craque, rapaz, pra quê essa bobagem toda?”
E o Ní, do mesmo jeito de sempre:
- “É melhor prevenir do que remediar, professor.”
- “Nada disso, quem tem futebol não precisa de mandinga. Pára com isso e vai aquecer.”
Contrariado, ele foi, entrou em campo e, com menos de 3 minutos de bola rolando, acertou a trave ao tentar uma cabeçada. Foi levado para o vestiário desacordado para o desespero do Bretinhas.
Passado o susto, Ní se recuperou e voltou a tempo de ajudar o time a vencer o jogo. Depois disso, antes de todo jogo, o Professor Bretinhas ficava colado no Ní
- “Beija essa figa direito, rapaz! E esse patuá, não ta descosturando não? Cuidado com o trevo, menino! Seguro morreu de velho, sabia?”
Direto na têmpora: Come fly with me - Frank Sinatra
6 comentários:
Muito interessante o teu conto, principalmente pelo que tem de verdadeiro nas nossas vidas. Cada um tem o seu, como dizer, o seu patuazinho, sua mandingazinha, seu trevinho, mesmo que não os assuma
Pois é, ndms, esse eu acho que vai ser publicado numa edição especial de um evento.
adorei...e confesso que sou meio assim, digamos, fiel a patuás..heheh
Eu não sou superticioso não, Danny, mas tenho um medo do sobrenatural que vou te contar.
O melhor da história é conhecer os personagens...
O limite de caracteres tirou da história o famoso "becão da roça" Juão Pegão... rs
Abç
Ah, sim, pegas, Juão Pegão foi titular do famoso selecionado do Valério Doce nos idos de 90.
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