Meu dileto amigo e grevista engajado, Ewerton Gastão, aproveita o tempo livre que a paralisação do Banco Central lhe oferece para debater assuntos como “a quantas anda a situação da Venezuela” e “que tipo de filho da puta é o Chávez”.
Não satisfeito em tergiversar sobre tais temas com os coleguinhas subversivos, Ewerton me envolve na situação e pede que, na condição de filho de brasileiros que vivem na Venezuela, dê o meu pitaco (ou pior, reproduza a opinião dos meus genitores) sobre o tema.
Eu, como não tenho um pingo de vergonha na cara, vou aqui discorrer sobre as questões propostas como se realmente tivesse um mínimo conhecimento. Preparem-se que lá vem bobagem.
Meu pai diz que a Venezuela é o Brasil há 30 ou 40 anos e realmente em muitas coisas é. Por exemplo, duas maiores hidrelétricas da Venezuela e dois de seus maiores rios estão em Puerto Ordaz (cidade de meus pais), mas existe um racionamento de água que vai das 23h até as 5h. A sensação de viver às margens do deserto de Gobi é ridícula.
O exemplo serve pra mostrar como o excesso do petróleo fez da Venezuela (não necessariamente do povo) uma referência de preguiça. Melhorar pra quê se tem tanto petróleo?
Aí entra Chavito. O cara foi golpista, é populista até o talo e tem fortes tendências ditatoriais, mas deu passos importantes pra tirar o país da inércia.
Por exemplo, grande parte dos protestos contra Chávez é pelo fato dele fechar empresas que não paguem seus impostos. Isso porque durante décadas sonegar não dava cadeia e nem punição. Era comum não pagar e pronto, então quem levava vantagem acha um absurdo.
Outro detalhe é o limite da compra de dólares no câmbio oficial e a desdolarização da economia. Antes a evasão de divisas era liberada, o dólar era moeda não oficial e tava tudo bem. Foi só o homem estancar a sangria que lá veio pedrada. Isso sem falar que a maioria das decisões foi referendada pelo voto popular e, ao contrário de Cuba, as eleições são acompanhadas por organismos internacionais e ocorrem dentro de certos limites de transparência e seriedade.
Agora, é um governo que não investiu na indústria de base como deveria, que comprou brigas internacionais absurdas e prejudiciais e que vem perdendo a capa de “democrático” para se revelar despótico e intolerante. Sem falar que nunca é bom para o povo ter um líder que se perpetua no poder por tempo indeterminado, o que desestimula o debate e as visões diferentes de desenvolvimento, responsabilidade social, etc.
Resumindo, na minha opinião Chávez é um mal necessário para a Venezuela. O país precisava de alguém que tomasse certas iniciativas, que enfrentasse certos poderes, que não tivesse tanto rabo preso. Mas que não vai acabar com tranqüilidade essa história, isso não vai mesmo.
Respondido, meu bom Gastrópodo?
Direto na têmpora: Suicidal Failure – Suicidal Tendencies
8 comentários:
Redatozim, meu irmão, respondidíssimo. Melhor que a encomenda, e mais célere (vocábulo de grevista) do que eu esperava. Vou indicar o texto e o blog para os colegas de Banco Central que me questionavam a respeito. Aliás, torcemos para que nossa greve termine nesta quarta, depois de mais de 40 dias de desrespeito e enrolação por parte do governo (sic).
Já sentimos falta de produtos nos supermercados, a gasolina sobe assustadoramente, o crime invade as ruas, essa greve precisa acabar logo.
Muito boa a abordagem de um problema tão complexo.
No momento, Chavez está sendo alvo de implacáveis críticas por causa do caso da RCTV.
Bom, poucos se lembram que Allende foi derrubado porque deixou correr o El Mercurio que fazia uma campanha contra ele, financiada pela CIA.
Tenho muitas críticas ao Chavez, acho que ele às vezes se perde em demagogias. Mas, faz parte do processo nesta sofrida América ao sul do Rio Grande.
Mas é tudo muito complexo...
A opinião de seu pai é de quem observa in loco a questão e deve ser respeitada.
Tudo o que diz respeito a política é sempre complicado, nunca é preto no branco, mas acho que o importante é refletir e achar a sua própria visão sobre o fato, de acordo com seus princípios, objetivos e expectativas de uma sociedade.
Concordo com você: o Chávez é parte de um processo que precisa acontecer na América. Assim como foi o Collor, por exemplo.
Viva el Comandante!
Viva Simón Bolívar! Viva Fidel Castro! Viva Cacilda Becker!
E a imprensa brasileira descendo o cacete no Lula porque ele disse que não renovar uma concessão pública é democrático. TV é concessão pública e o Estado tem o direito de não renová-la. Só acho que o Legislativo deve definir as novas regras de concessão e, após o Executivo endossá-las, o concessionário tem direito a se ajustar a essas regras e pleitear a renovação da concessão. O que me parece é que lá o Chavez não tá a fim de renovar a concessão de jeito nehum. E isso é anti-democrático.
Esse episódio me lembra e me dá até uma certa saudade do Brizola, que vivia dizendo que seu primeiro ato como presidente do Brasil seria cancelar a concessão da Rede Globo. Eu adorava quando ele dizia isso. Hehehe...
Rubs, concordo em gênero, número e grau com você. O ato tem base democrática, mas é feito de forma ditatorial e isso custou a ele um apoio popular que era fundamental proprojeot dele. Ou seja, vejo tempos difíceis pra Chavito.
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