Quando eu era aluno de faculdade ainda pairavam algums regras sobre criação que eu, ao longo da carreira, fiz questão de ignorar, mas que eram tidas quase sempre como sagradas por certos membros jurássicos da comunidade acadêmica.
Repita o nome do cliente pelo menos três vezes em cada spot de rádio, nunca use "não" em um título e cite sempre a marca no título eram mimos comumente ouvidos pelos corredores da FAFICH.
No meu caso, tive a sorte de ser aluno da Carla Madeira, que sempre se pautou mais pelo bom senso, pela eficácia e pela originalidade da solução do que por regras cristalizadas e de valor duvidoso.
No entanto, a gente sempre encontra pelo mercado pessoas que amam regrinhas fáceis e que podem ser interpretadas da maneira que melhor lhes convier. Há algum tempo, por exemplo, apresentamos uma campanha sobre um produto e no título, bastante direto, colocamos seu diferencial. O cliente gostou mas solicitou uma pequena mudança.
- Ficou bom, mas pega essa informação e coloca também em um splash, na imagem do produto e em bold no texto.
Olhamos um para o outro e alguém falou:
- Olha, a informação vai ficar muito redundante, além de poluir a peça, não vai ficar legal.
Foi aí que, com um jeito maroto, o cliente nos deu a resposta com um sorriso vitorioso.
- Ah, mas comunicação é repetição, você não sabia?
E assim, com tanta simplicidade, a ordem foi acatada. Não importa que a frase citada fosse uma máxima sobre frequência de mídia da década de 70 e que não necessariamente se aplica ao produto dele há quase duas décadas.
Não interessa também que uma frase sobre mídia estivesse sendo usada para mudar o conteúdo de uma peça.
Interessa menos ainda que ele tenha lido um único livro de marketing há 40 anos, não tenha entendido e continue usando a frasezinha pra tudo.
O que interessa, pequenos comensais desta pastelaria, é que para ele aquela era uma regrinha linda e fofa. E regrinhas valem ouro para quem não acredita em inovação.
Direto na têmpora: No Stopping Anytime - Family Lumber
10 comentários:
Ah! clientes.
Escuta essa:não fica chateada, de publicidade e de futebol todo mundo entende. Faz o que estou pedindo.
Ai... essa foi foda, Micho
regra em propaganda tem data de validade meeeeesssssmo...e é osso quando temos que engolir certas coisas. Eu, pra começo de conversa, detesto splash...putz..já me da irca quando escuto que precisa de um splash. Minha vontade é dar um splash do almoço no pé da pessoa...aiaia
acho que publicidade tem bom senso, danny, regra é pra engenharia.
Em Engenharia também é necessario, muitas vezes, usar o bom senso em substituição às regras ou regrinhas. Alias, as regrinhas geralmente impedem a criatividade ou impedem pensar nas inovações e acho que isso é verdadeiro em todas as profissões, exceto, advocacia
Não sei, ndms, mas mesmo em Direito é preciso observar mais o "espírito" do que a "letra" da lei.
Quem melhor definiu um “splash” até hoje foi o Boca quando o denominou de bosta de vaca. Algo mais semelhante? Em todos os sentidos.
Mas como todo coroa adora uma historinha, lembro-me de uma campanha que fiz para a Alitalia (chiii, há muito tempo atrás). O “review-board” da agência aprovou todas as peças, mas recusou uma que tinha o painel do avião --até pra mostrar que o dito aeroplano era sofisticado, etc--, simplesmente porque havia uma regrinha de que não se pode mostrar imagens que levem ao perigo de voar.
Alguns anos depois vi uma campanha (acho até que da W Brasil) que explorava somente imagens assim.
Don Oliva
policies mudam ainda mais do que regrinhas, don oliva, e são defendidos de forma muito mais ferrenha.
Pois acredite: comigo já aconteceu de o cliente mandar suprimir o título.
É ruim, hein?
ai! que osso, renata, creda.
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