No térreo, perto da quadra de esportes, ficava o apartamento do zelador. Vivia ali sozinho havia muitos anos, mais tempo do que a grande maioria das pessoas do prédio.
Quem entrasse no apartamentinho veria que ele se resumia a uma cama de solteiro de armar, um pequeno banheiro com uma cortina com motivos tropicais para dar privacidade ao banho e uma diminuta cozinha.
De resto, eram prateleiras de metal onde se acumulavam resistências queimadas de chuveiros, maçanetas rotas, buchas de torneiras, lâmpadas quebradas, persianas esgarçadas, cacos de vasos, lascas de móveis, restos de reboco e todo um mundo de inutilidades, detalhes de outras vidas, um arremedo de história.
Zelar pelo que nunca foi seu, reparar o que ele próprio nunca quebrou, ouvir o que nunca pediu e seguir, o cômodo cada vez mais apertado, trabalhando em um eterno favor à espera do próximo toque do interfone.
Direto na têmpora: Ne me quitte pas – Nina Simone
4 comentários:
Triste vida... é como o pedreiro que constrói o prédio, mas se um dia chegar lá sem permissão é capaz de ser preso confundido com um ladrão.
Ou a gente mesmo, que divulga produtos de luxo e não consegue pagar nem a entrada de um deles. É o capitalismo, meu bom Oliva. Tem seu lado bom, mas tem a coisa escrota mesmo.
Parabéns, de uma sensibilidade que lhe caracteriza...por trás dessa "aparência" tosca, né, claro...hahhahahahaha
hahahahaha Shrek na veia. Obrigado, viu?
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