Eu sempre fui desmedido em meus carinhos. Gosto do abraço apertado, de jogar pro ar, de grudar com vontade. Meu carinho é arrebatamento puro, carece de delicadeza.
Na AURA estou aprendendo, a duras penas, que é possível amar muito e leve. Dosar o toque, evitar o abraço, privilegiar a sensibilidade.
São crianças com limitações e dores e impedimentos e embora seja precisa amá-las exageradamente, é preciso ser moderado no contato.
É difícil pra mim, mas estou aprendendo. Abaixo, uma foto da turminha que lá esteve hoje e a historinha que fiz a partir do pedido deles de incluir: falcão de fogo, vizinho e dentes-de-sabre. A próxima terá: três meninos, um lobo, uma noite de lua cheia.
Atrás, da esq. para a dir.: Eric, Juninho, Sabrina, Samara e Vanderlúcio. Na frente, da esq. para a dir.: Emerson, Oseias, Rainer, Evelyn e Lorena.
O falcão de fogo
Do lado da casa de um homem, vivia um falcão de fogo, em cima de uma grande árvore. Era um pássaro muito bonito, de asas brilhantes e bico forte, rápido como uma flecha.
Só que tinha um problema, só o homem conseguia ver o pássaro, ninguém mais.
E aí aconteceu o que a gente já sabia que ia acontecer: o homem ficou com fama de doido. Todo mundo ria dele e gritava “olha lá o doido do falcão”, “lá vai o maluco que vê bichos de fogo”.
Mas o homem nem ligava, continuava olhando pro pássaro na árvore ao lado e acreditando nele como quem acredita nas próprias mãos.
Um dia, uma chuva muito forte caiu na cidade. O rio subiu e muitas casas foram inundadas. Pessoas ficaram presas em cima dos telhados, gente se agarrou a árvores e ninguém sabia o que fazer.
O homem que todos achavam louco morava em um lugar bem alto e lá de cima viu aquilo tudo acontecer. Ele então foi correndo pra árvore e começou a pedir socorro para o falcão de fogo:
- Ajuda eles, falcão! Você é forte, você é rápido, você pode salvar essa gente!
Enquanto isso, lá embaixo na cidade, a água continuava subindo. Já tinha gente achando que ia se afogar quando, de repente, um rastro flamejante desceu como um raio e começou a pegar pessoas em suas garras e levar embora.
No começo todos se assustaram, mas depois começaram a perceber que aquela luz estava levando todos para um lugar seco e seguro. Em poucos minutos, todo mundo estava salvo.
A partir daquele dia, ninguém nunca mais duvidou do homem. Eles ainda não viam o falcão, mas aprenderam a acreditar que nem tudo o que é verdadeiro a gente consegue enxergar.
E por isso, quando o homem contou que tinha um tigre dentes-de-sabre morando em um quartinho da sua casa, ninguém duvidou, ninguém riu, ninguém achou que ele estava maluco.
Todos deram os parabéns ao homem e ficaram muito felizes em saber que além do falcão de fogo, a cidade agora tinha outro amigo para cuidar deles, mesmo que eles não pudessem ver.
Afinal, tem muitas coisas que a gente só enxerga de verdade, com os olhos do coração.
Direto na têmpora: Be sweet - The Afghan Whigs
6 comentários:
Essas histórias dão um livro!
Bjuss, Thais!
Se tudo der certo, vira mesmo, Thais.
OBA!!! Mais um livro!!!
quem sabe, Mariana, vamos torcer.
Que DEus lhe abençoe, Maurilo, e tire o sofrimento destas crianças.
Amém, Danny.
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