Minha participação no prêmio João-de-Barro de literatura infantil não deu em nada. Sendo assim, volto a republicar no blog as histórias infantis que havia retirado.
Cachinhos, conchinhas, flores e ninhos
A menina tinha mil cachinhos na cabeça. Se a gente olhava de um jeito, cada cachinho era uma conchinha. Se reparava dali, pareciam botões de flores. Se batia os olhos de lá, viravam um monte de ninhos.
O pai amava as conchinhas. Brincava com os dedos nelas e quase sentia o cheiro de mar.
A mãe adorava as florzinhas. Cuidava bem de cada uma como se ali fosse o seu jardim
E os ninhozinhos? Ah, dos ninhozinhos nascia cada idéia... Debaixo dos cachinhos, a cachola da menina inventava histórias e criava mundos e encantava pessoas e ela se ria, ria, ria.
Mas um dia falaram para a menina que bom mesmo era não ter cachinhos. Disseram pra ela que bonito era de outro jeito, daquele mesmo jeito que todo mundo tinha.
Ela ficou bem triste. Não queria ficar sem eles, os seus cachinhos. Que graça teria uma cabeça sem conchinhas, nem florzinhas, nem ninhozinhos?
E aí o papai disse: “Não! Ninguém mexe nas minhas conchinhas”.
E a mamãe falou: “Sai pra lá. Deixa aqui o meu jardim”.
E os ninhozinhos falaram todos juntos: “Não, menininha, deixe a gente ficar aqui”.
A menina então pensou, pensou, fez um carinho nos cachinhos, ficou se olhando no espelho um tempão e começou a imaginar como seria se todo mundo mudasse o próprio jeito só pra agradar os outros.
Ficou pensando na tartaruga com a juba do leão. Ela toda engraçada com aquela cabeleira e o leão lá, todo espremidinho dentro do casco.
Imagina a confusão: a zebra com as manchas da girafa e a girafa com as listras da zebra. O tucano com o topete da cacatua e a cacatua com o bico do tucano. Um macaco com os pêlos de um poodle e um poodle com o rabo grande do macaco.
Aí ela resolveu que cada um é bonito de um jeito. Pra quê mudar assim? Pra quê querer ser outra coisa?
E com um cabelo cheio de cachinhos, conchinhas, flores e ninhos, a menina continuou sendo feliz. Muito feliz.
Musinha inspiradora
Direto na têmpora: A good idea - Sugar
20 comentários:
Bunitinho demais esse conto! E que graça essa musinha inspiradora !!!!!
Parabéns!!!!
Eu e a musinha agradecemos, Flavia. Obrigadão.
Nem precisava dizer que a musinha inspiradora era a Sophia né? Fala sério...Ela está em cada significado da história, que por sinal é linda, verdadeira e gostosa de ler. Não liga pra esse lance de ter sido devolvido, toda obra prima já foi rejeitada um dia. E infelizmente quem recusou essa história, não era digno dela.
Bjs!
Ahhh que coisa mais linda!
Essa musinha é a coisa mais fofa mesmo.
e eu, como menina de cabelos cacheados, também me sinto lisonjeada.
beijos maurilo!
Como eu não conheço as obras que ganharam, Raquel, prefiro acreditar que elas eram simplesmente melhores. Acontece. Mas em 2010 tem novidades relacionadas à publicação de coisas minhas. Aguarde ;)
É pra todas as cacheadas, todas as sardentas, todas as gordinhas, todas as crianças que são lindas do jeito que são, Julia. Sinta(m)-se homenageada(s).
Eu daria o prêmio sem pensar duas vezes... Lindo conto.
Valeu, Rute. Muito obrigado pela bondade.
Lindo, lindo, lindo, ainda mais que sou uma menina de cachinhos tb e que acho horrível a pasteurização de todos. O legal é cada um do jeito que é!bjs.
O defeito não está na gente, lila, está no olho do outro ;)
Ahhhhhh, esse tato que você tem para transformar em palavras o seu amor pela sua musinha.
Obs.: sabe que eu comprei uma camiseta de "oito reá" com estampa de girafa listrada de zebra? Só por causa do bom humor ou da falta de conhecimento do criador.
ah, manda uma foto da girafa zebrada pra nóis, Sakana-san!
Ahahahahah! Vou pedir para alguém tirar a foto. Estou sem máquina digital, levaram a minha no último assalto que sofri. :(
caramba... nunca fui assaltado, mas deve ser um saco, Sakana-san.
Obrigada por escrever algo tão lindo! Eu e meus cachos estamos cansados de ver tanta escova progressiva, de chocolate, de morango, tuti-fruti...
E viva a diferença!
E Sophia só podia ser Sophia com esses cachinhos.
Beijos!
Realmente, Kell, Sophia só podia mesmo ser Sophia com esses cachinhos.
Tudo nesse POEMA é bastante aproveitável, inclusive podemos tomá-lo como lição de vida, de amor e de felicidade
a intenção era menor, ndms, mas que bom que gostou.
Mostrei pra Carol, mãe do Tomás.
Ela falou que, se tivesse lido isto quando tinha a idade da Sofia, ia lançar um movimento pró cachinhos.
Isto aumentou minha fé de que o Tomás vai investir na Sofia.
Se der samba, o casamento deles vai ser patrocinado por criadores de ovelhas daquelas de lãzinha.
PC, conto com você e com a Carol para entrarem em contato com a Johnson & Johnson e convecê-los a produzirem um livrinho com essa história. Afinal, eles tem uma linha só para cabelos cacheados
PS - perceba como eu ignorei totalmente a sua observação sobre relacionamentos amorosos envolvendo minha filha.
Postar um comentário