Segue aí uma coletânea de textos infantis que eu tinha tirado do blog por causa do concurso João-de-Barro. Pra quem ainda não leu, pode ser uma boa. Ah, e se você tiver crianças em casa, ou próximas, teste com elas e me diga se gostaram, beleza?
Rei Tomate
Vermelho e roliço
De verde coroa
Suspenso no ar
O rei fica na boa
Rotundo e rubro
De pele brilhante
Reflete o sol
Como um diamante
Cercado de verde
Ele reina vermelho
E daria o seu reino
Pra se olhar no espelho
No entanto nem nota
O monarca vaidoso
Lá fora do reino
O inimigo guloso
E qualquer dia desses
Sem ser avisado
O tomate orgulhoso
Vai ser fatiado.
O ovo
O que é que tem do lado de dentro do ovo?
Um pato, uma cobra ou algum bicho novo?
Guardado da casca, no escuro quentinho
tem alguém encolhido que já sonha um pouquinho
Tem pena ou escama, tem bico ou tem dente
Não sei o que é, mas não deve ser gente
Devia estar em seu ninho ou talvez enterrado
Mas veio rolando chegar do meu lado
O ovo ia rachar, eu podia sentir
E de pensar no filhote, começava a sorrir
Eu já queria dar no bichinho um beijo
Mas meu pai preferiu omelete de queijo
Mariquita 1
Fofoca no jardim
Ainda vai dar confusão
Ouviram o grilo dizer
Que a joaninha é pintada a mão
Mariquita 2
O projeto da joaninha
É muito bem acabado
Ao invés de fazer um inseto
Criaram um moranguinho alado
Mariquita 3
O macho da joaninha
Anda sempre triste e sozinho
Se ele pudesse escolher
Ia se chamar joaninho
Abelha
Na ponta do meu nariz apareceu uma abelha.
Era linda, amarela e preta, da bundinha redonda, do jeitinho irrequieto.
Parecia um desenho muitíssimo animado.
Mas era de verdade.
E foi aí que eu perguntei "tem mel abelhinha?"
E ela, ranzinza, zuniu agitada e, zanzando zangada, zunou pro nariz.
Picada certeira, doída, ardida.
"Não quero mais mel, agora vai-te daqui."
Bees
Zumzumzum a zanzar no zênite
Aurinegra seta
Zumbindo um poema
Setando uma meta
Ruma na flor
Paira perfeita
Se cobre de pólen
Razão da receita
Seu trabalho melado roubei com a mão
Me pousou no nariz
Ajeitou o ferrão
Ai, que final infeliz
A ervilha Elvira
A ervilha nunca é filha única. Vem da vagem cheinha, com muitas irmãs gêmeas verdinhas, redondas, pequenas.
Mas com a Elvira foi diferente. Na vagem que nasceu Elvira, nenhuma outra ervilha vingou. E ela cresceu ali sozinha, sem as risadas sapecas das ervilhazinhas irmãs.
Era tristezinha a Elvira, tadinha.
Um dia, a vagem de Elvira saiu do pé e ela foi junto, quietinha, assustada, sem saber onde ia parar. Quando abriram a casca ela tomou um susto com a luz e se preparou para o pior.
Tiraram Elvira de lá e a jogaram em um monte de arroz. Depois, foi chegando uma ervilha e outra e outra e mais outra.
Naquele domingo, o almoço foi de família para a Elvira também. Pela primeira, última e deliciosa vez.
A berinjela
O que é o que é
que é verde e roxa
que é igual só a ela
que dá agua na boca
se vai pra panela?
O que é o que é
que faz sucesso no prato
e também na baixela
que só não come todinha
quem é matusquela?
Quer saber de verdade o que é o que é?
Que a Maria adora e também o José?
Então vai a dica para adivinhar
Ela é boa no almoço e também no jantar
Ela é um show na lasanha e também empanada
Uma delícia em pasta e também na salada
Ela é das leguminosas talvez a mais bela
Isso aí, muito bem, é a berinjela.
O Batata Tatão
O Batata Tatão vivia emburrado, de cara fechada, sempre reclamando de tudo. Todo mundo tinha medo dele, até as batatinhas que mal nasciam e já ouviam as mamães batata falarem: "Fiquem bem quietinhas, viu, porque batatinha que faz bagunça, o Batata Tatão vem e pega."
Mas o Batata Tatão até que tinha motivos pra ser assim, irritado. É que enquanto as outras plantinhas da horta aproveitavam o sol e ficavam por ali, ao ar livre, curtindo as cores, o calor e o ventinho, o Batata Tatão vivia enterrado, preso debaixo da terra.
Pois foi durante uma tarde em que o Batata Tatão andava nervoso como sempre que ele sentiu uma raiz encostar nele e não gostou nada, nada.
- Quem é que está aí? Vamos, fale, quem é que vem me incomodar aqui no meu canto?
Na hora ninguém respondeu, mas um pouquinho depois uma vozinha assustada disse:
- Sou eu, "seu" Batata Tatão, só uma cenourinha. Me desculpe, eu não queria incomodar.
O Batata Tatão então ouviu que ela começou a chorar baixinho e alguma coisa se mexeu dentro dele.
- O que foi, menina, tá chorando por quê?
- É que aqui é muito escuro e não tem nenhum amigo por perto. Estou com medo, sozinha e não tem ninguém pra me ajudar.
O Batata Tatão ficou pensando naquilo e resolveu ajudar a cenourinha. Conversou com ela, explicou que ali era muito mais frequinho do que lá em cima, que o sol não secava, que a chuva não esfriava, que era bem confortável, cercado de terra, tranquilo.
A cenourinha então foi se animando, começou até a crescer, ficou com um laranja bem vivo e as folhinhas da sua cabeça cresceram fortes e verdinhas.
Quando a cenourinha saiu dali e foi para a cozinha com as outras plantas, só teve elogios para o Batata Tatão. Falou como ele tinha ajudado, como era educado e tinha bom coração.
Todo mundo ficou muito espantado e a fama de bonzinho do Batata Tatão se espalhou. Daquele dia em diante, toda batatinha que nascia, já recebia da mãe o conselho:
- Olha filhinha, fique bem quietinha, mas se você sentir medo, não se preocupe, porque o Batata Tatão está bem ali, pertinho da gente para ajudar quando a gente precisar.
Julieta, a rabaneta
Não havia na hortinha legume, verdura ou fruta mais bonita que a Julieta. Redondinha, vermelhinha, com longas folhas verdes, Julieta era um rabanete perfeito.
“Rabanete, não” – dizia ela ofendida – “eu sou uma rabaneta!”
“Rabanete é rabanete! Não existe rabaneta.” - gritava nervoso o pardal.
Julieta fazia que nem era com ela e continuava conversando com duas caracóis muito distintas que passavam por ali.
“Sabem, meninas, eu sempre fui a rabaneta mais bonita aqui da horta. Podem perguntar por aí. Até as cenouras morrem de inveja de mim.”
O pardal, ouvindo aquilo, irritou-se e saiu voando. As duas caracóis continuavam lá, ouvindo interessadas.
“É mesmo, Julieta? E você tem muitos pretendentes?”
“É claro, vocês acham que eu sou vermelha assim, por quê? É de tantos elogios que vivo ouvindo.”
E era verdade. O repolho vivia de olho. O almeirão quase morria do coração. O chuchu sussurrava “ailoviú”.
E os rabanetes? Ah, os rabanetes eram loucos pela Julieta. Ficavam todos ali, felizes só de olhar pra ela.
Um dia, a dona da horta chegou por ali e, vendo a Julieta toda faceira, não teve dúvidas, tirou da terra e levou para a salada.
Os outros legumes ficaram chocados. As verduras não podiam acreditar naquilo. E até mesmo o pardal resmungão, lá do alto das árvores, se emocionou com o fato.
A horta ficou triste por um tempo, mas logo, logo, nasceram novas cenourinhas de um laranja vivo, um tomate bem redondo e corado, uma beterraba roxa como nunca se viu e a alegria foi voltando.
E na casa, Julieta foi a estrela da salada mais bonita e mais gostosa que já se comeu por ali.
Direto na têmpora: Paper Doll - Rachael Yamagata
8 comentários:
Cada um mais fofo e gostoso de ler do que o outro... Parabéns! Vou levar todos pra minha Bonecca se deliciar!
O feedback dela é fundamental, Raquel, não esqueça de me dizer se ela gostou, beleza?
O Gabo adoooora!
Ama, escuta atento e lembra de tudo sempre.
No lançamento do livro vc vai ver que leitores fieis!
Muito lindo!
Ai, Micho, tomara que esse dia chegue mesmo. Valeu sua grande força ao longo do ano pra esses projetos, viu?
Tô amando! Eu li pra minha Sofia! Ela adorou!
Que bom, Danny, segundo leitor que aprova! Terceiro, se contar a minha Sophia.
Se a aprovação de adulto vale, pode contar com a minha
Claro que vale, ndms, principalmente se o adulto tiver uma editora ;)
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