Para seguir um certo projeto meu, hoje tive que ir ao cartório, ao xerox, ao banco, preencher 3 ou 4 cadastros e acessar um site sobre o qual a outra parte nada sabia. Resolvi tudo, mas fiquei com aquela sensação de que o projeto que me parecia genial deve ser mais um pé no saco mesmo.
Aí eu me perguntou: quantos talentos ficaram invisíveis, quantas iniciativas deixaram de rolar, quantos projetos ficaram parados ad eternum por causa da burocracia? É por isso que eu acredito firmemente que o inferno nada mais é que uma repartição (pública ou não) repleta de burocratas insatisfeitos culpando sempre o sistema.
Direto na têmpora: Booksmart Devil - Silversun Pickups
12 comentários:
Há muitos anos (tantos que não convém fazer as contas) precisei tirar uma segunda via da minha carteira de identidade. A fila da repartição não andava. Muitos minutos depois, descobri que o atendimento tinha sido temporariamente suspenso para uma degustação de mandioca cozida que estava sendo preparada ali dentro mesmo, num desses fogareiros de acampamento. Isso tudo pra dizer: o inferno é uma repartição cheia de burocratas que interrompem o atendimento para cozinhar e comer mandioca.
Você sabia que no Brasil ja foi criado um Ministerio da Desburocratização ? Não me lembro mais o nome do Ministro, só sei que ele durou pouco no cargo e o Ministerio acabou rápido. Alias, nem o regime militar conseguiu acabar com esta praga, embora tenham tentado muito
Simplesmente Kafkiano!
Aliás eu tinha um conhecido que só se referia a estes processos como "burrocracia". Mas, pensando bem é mesmo "incomdocracia".
Em outras palavras uma desagradável sensação de perda de tempo.
Aí é sacanagem, Dri. Enquanto uns comem mandioca, outros comem o pão que o diabo amassou. E o pior é que essa parece ser a regra. O atendimento telemarketing é o inferno via Embratel.
Ministério da Desburocratização é foda, pai. É a burocracia da burocracia.
Don Oliva, inocomodocracia só não pega porque é mais longo (e consequentemente mais burocrático) que burocracia.
Muito bem lembrado, sr. Nilo! O Ministério da Desburocratização existiu no governo Figueiredo, eu me lembro bem (eu tinha uns 10 anos de idade, não entendia nada, mas prestava a maior atenção). O Ministro era um tal de Beltrão. Aliás, Redatozim, você deve se lembrar de uma crônica do Veríssimo em que ele cria super-heróis adequados aos problemas cotidianos. Tinha um que combatia justamente a burocracia. A palavra mágica dele (o "Shazam" dele) era justamente "Beltrão!"... Desburocratização é fundamental, mas deveria ser um programa global, e não um ministério, contradição na origem.
Me lembro bem do texto do Veríssimo, Gasta, mas realmente não lembrava de que já houve um ministério pra isso. E concordo plenamente com o fechamento do seu texto. É como marcar longas reuniões diárias pra tentar entender porque o trabalho rende tão pouco na empresa.
Hélio Beltrão foi o ministro da Desburocratização no governo Figueiredo. Mais tarde, Paulo Lustosa foi o titular da pasta no governo Sarney. Vejam só o que este último diz em um artigo publicado na Gazeta Mercantil:
"Num primeiro momento, a desburocratização foi tratada como ação semifolclórica, uma espécie de ministério removedor de carimbos, que tornava simpática a imagem do governo federal. Enquanto se ateve à epiderme do problema, contava com o apoio da própria máquina, que fingia ser sensível a seus reclamos.
Quando, porém, começou a ir à essência da questão, fustigando as instâncias ocultas de poder, passou a enfrentar a ira dessa mesma máquina. E foi graças à sabotagem silenciosa que gerou em torno de si que a desburocratização deixou de ser um ministério e tornou-se, ao final, um programa de governo (mais um) diluído, vejam só, na esfera mais burocrática da máquina administrativa. Passou, naquela ocasião em que foi extinto (final de 1986), a integrar o então Ministério da Administração, uma das pastas que mais reagia às suas determinações".
A gente não fica sabendo, mas esse ministério criou, por exemplo, o tribunal de pequenas causas. Foi o ministério também que, em 1985, aboliu a exigência do reconhecimento de firma em cartório.
Apesar dessas e outras poucas conquistas, não há como negar: criar um ministério para desburocratizar é o ápice da burocracia!
Olha aí como é bom ser aqmigo de um filhote da ditadura. Nosso correspondente para assuntos militarescos, Rubéola Garrastazú do Couto e Silva, nos presta aí valiosas informações sobre a desburocratização nos anos de chumbo.
Claro que é brincadeira, Rubs, mas muito legal saber desses fatos, porque a gente sempre pensa neles como "conquistas da democracia".
Muito bom os comentarios do Gastão e do Rubens, concisos e claros. Ao ler-los, me passou um filme pela cabeça, recordándome daquela época. Brincava com meus amigos de trabalho que meus filhos, ainda pequenos e inocentes, tinham as carreiras profissionais ja definidas por mim: General Maurilo Andreas ( o redatozim ), Brigadeiro Diogo Otavio e o Almirante Werner Augusto. Que loucura!
Eu lembro disso! Imagina um General Maurilo Andreas hoje, sei lá onde eu ia parar.
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