- Entreguei pro mendigo por engano.
Imediatamente, quase por reflexo, olhou em volta. O maltrapilho havia sumido e levado sua grana.
Que descuido! Não que o dinheiro fosse fazer falta, ele andava bem de vida com o novo salário, mas dava raiva demais um ato tão bobo custar tanto.
A raiva começava a subir junto com o café
que ele bebia amargamente. Quem mandou ser bonzinho? Quem mandou querer ajudar
e dar esmolas pra um vagabundo qualquer? Um grande otário de coração mole, era
isso que ele era.
Sentia o rosto queimando de vergonha e
frustração e já não olhava para os outros. Abriu o jornal que trazia com ele e
fingiu ler alguma coisa para evitar que percebessem, por alguma arte mágica,
como ele havia sido burro.
De repente, uma voz grave ecoou pela
cafeteria.
- Ô, menina, vê aí um outro café pro dotô e
pode colocar um pão de queijo também, viu?
Virou-se e deu de cara com o mendigo
sorrindo seu sorriso pobre em dentes, um gigantesco buquê de rosas vermelhas na
mão.
- O lanche hoje é por minha conta, dotô,
pode aproveitar.
E antes que pudesse esboçar qualquer
reação, sentindo-se observado pelo planeta inteiro, ouviu o outro dizer ainda,
cheio de simpatia genuína.
- E as flores são pra patroa. Fala que eu
mandei um beijo pra ela. O nome é Francisco, viu?
Direto na têmpora: Block after block - Matt & Kim
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