Incultos, o livro que não existe mais, aparece mais uma vez no Pastelzinho, agora com uma semificçãozinha que eu escrevi: Belô Lugosi.
Não sou de Belo Horizonte, mas apesar da resistência inicial que tive com a cidade, tenho que reconhecer que aqui tem uns negócios realmente meio fora do padrão.
Pois às vezes BH também tem seu lado tétrico e parece um filme com Bela Lugosi, principalmente quando um se descobre no meio daquela neblina que chega de repente e tudo encobre e esconde.
E foi numa noite assim que me peguei voltando para casa em estado de semiporre pelas tortuosas ruas do Santa Lúcia. O vento me gelava o nariz e me fazia apressar o passo, mas nada que justificasse o quase trotar que passei a ouvir.
Era uma rua com poucas casas e muitos lotes vagos (como dezenas de outras no bairro), donde imaginei que pudesse ser um cavalo ou cachorro que a névoa mantinha invisível em algum matagal. No entanto, quando parei, o ruído também parou. Olhei para os lados procurando algum vulto ou sinal de movimento, dei de ombros e segui andando apenas para perceber que o ruído recomeçava.
Naquele momento, o álcool me encheu de coragem e, ao invés de sair em desabalada carreira, decidi perguntar em voz alta "Tem fogo, companheiro?". Sem receber resposta, ganhei ânimo e provoquei "Tá com medo de mim, amigo?". Dei uma risada sarcástica e voltei ao meu caminho, agora com passos mais firmes.
Mais uma vez o som de outros passos começou e desta vez resolvi não arriscar. Fosse desse mundo ou não, haveria de ter um foguete nos pés para me alcançar.
Cheguei em casa colocando o coração pela boca e pela primeira vez desde que comecei a correr olhei para trás. Mesmo tendo ouvido som de passos me acompanhando aceleradamente por todo o caminho, procurei e não havia ninguém por perto.
Abri o portão atabalhoadamente, tremendo com um misto de cansaço e pavor. Subi as escadas correndo, quase arrombei minha própria porta e dormi ali mesmo na sala, a luz acesa, a tv ligada.
Um sono agitado, constantemente interrompido pela sensação de uma companhia silenciosa que, mesmo agora quando escrevo, teima em me pertubar.
Direto na têmpora: Alcoholics Unanimous - Art Brut
6 comentários:
adorei!delirios feelings!
eu morro de medo desses negócios que já morreram, danny
Ou seja, foi uma ótima maneira de me dar notícias de você: continua bebendo, fumando, morando no mesmo lugar, andando a pé e com um tremendo cagaço de alma penada. Bom ter notícias de você!
Que nada, Leo. Primeiro que o conto foi escrito há cinco anos, segundo que eu nunca fumei, terceiro que eu vergonhosamente quase nunca ando a pé. A única verdade mesmo é o cagaço de alma penada. rsrs
Então, parou de tomar umas? Que maravilha!
Parar 100%, não, mas hoje é muito raro.
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