Amar a Liras de Sintra é de um impossível tão tamanho quanto esquecê-la. O segredo que Padre Alberto descobriu quando deixou a cidade, 13 anos depois de chegar, não era em verdade segredo algum e pairava, morno sobre os telhados de um vermelho acanelado, como alguma forma de certeza indiscutível.
Na igreja que ainda rescendia a mesquita batizou almas, expurgou pecados, confortou os exaustos e distribuiu esperanças insossas. Agora, enquanto fazia as malas, era apenas um gosto de fim que sentia aos fundos da língua.
Os sapatos de um couro amolecido pela lida sequer rangiram quando Padre Alberto atravessou a sacristia e ajoelhou-se em frente ao altar uma última vez. Logo seria sequer lembrança, um rosto qualquer que se esvai da memória de um lugar que esquece para viver.
E com certas ervas de poder conhecido, Marina também se esqueceria. De Padre Alberto, do início de um filho que agora expulsava do ventre, da vergonha e prazer no muro do cemitério.
Com as folhas de gosto forte, arrancava de si um passado, para ser esquecida ela própria como qualquer dor em Liras de Sintra.
Direto na têmpora: Sleep to dream - Fiona Apple
2 comentários:
Bonito, ó pá.
A cidade é fictícia, Alexandre, mas o texto é verdadeiro ;)
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