Gino tinha 21 anos e, no meio do curso
de Engenharia Química, com tantas provas, matérias e preocupações
com estágios e empregos, já começava a sentir falta da época do
colégio.
Foi assim que bateu nele a vontade de
rever as fotos da velha turma: as festas, os encontros, a bagunça na
escola e a formatura do ensino fundamental.
Abria os arquivos e relembrava rostos,
piadas, aventuras e parecia que já não estava mais no meio da
faculdade, e sim vivendo novamente os bons momentos dos seus 17 anos.
Tudo havia se passado há apenas 4 anos, mas pareciam séculos.
Até que um rosto chamou a atenção de
Gino. Começou a reparar em um menino de cabelos claros e olhos bem
pretos que aparecia em todas as fotos. Engraçado, não se lembrava
dele.
Com certeza não eram da mesma sala,
mas o garoto podia ser de outra classe. A idade era mais ou menos a
mesma dele na época e não seria estranho se eles tivessem amigos em
comum.
Passou as fotos na escola, as fotos das
festas, da formatura e o menino sempre estava ali, sorridente,
brincalhão e irritantemente desconhecido.
Deu de ombros, desligou o computador e
foi dormir. Inútil, a imagem do menino tão
presente e que escapava da sua memória o mantinha acordado. Resolveu
mandar um email com uma das fotos para ver se alguém da turma se
lembrava.
Acordou no dia seguinte, correu pra
mais uma das intermináveis aulas e, no meio do caminho, foi checar
os emails. Dos 13 emails para amigos que havia enviado, 7 haviam
respondido e nem um sequer se lembrava do garoto.
Achou aquilo estranho e ficou mais
impressionado ainda quando de noite descobriu que nenhum dos colegas
se lembrava do rapaz. Encaminhou a foto para a turma inteira e, 3
dias depois, tinha a certeza na caixa de emails: ninguém sabia quem
era o mocinho de olhos escuros.
Os dias se passavam e Gino ficava cada
vez mais incomodado com aquilo. A coisa chegou a tal ponto que se
resolveu a matar estágio e foi até a escola falar com os
professores. Como podia se esquecer de alguém que estivera tão
perto dele em tantas ocasiões? Algum educador com certeza poderia
esclarecer o mistério.
Chegou à escola e deu de cara com o
Romão da portaria. O Romão estava ali há uns 30 anos e seria a
pessoa certa para esclarecer as coisas.
Conversaram fiado, trocaram novidades e
logo depois o Gino já foi mostrando a foto. Romão olhou, olhou e um
tempo depois perguntou.
- Como é que você fez isso?
- Isso o quê?
- Essa foto com o Rui.
- Ah, então esse de cabelo claro chama
Rui? De que turma ele era?
- Chamava Rui, sim. Como é que você
fez isso?
- Fiz o quê, Romão? São as fotos da
minha época aqui na escola.
Romão balançou a cabeça. Gino ficou
olhando pra ele sem entender até que o velho porteiro falou.
- Gino, essa foto é impossível. O Rui
estudou aqui 20 anos antes de você. Ele tinha uns 16 anos quando se
enforcou no banheiro do vestiário. Eu sei porque fui eu quem tirou o
corpo da corda. Agora, me responde como é que você fez isso?
Gino saiu correndo. Apagou todas as
fotos do computador, reformatou a máquina e jurou nunca mais dizer
uma palavra sobre o assunto para ninguém. Nunca mais procurou o
Romão e nem buscou o contato dos velhos amigos.
O medo durou uns 3 anos. Dormia de luz
acesa,acordava sobressaltado, olhava pra trás sempre que estava
sozinho e sentia arrepios e calafrios a todo o instante.
Com o tempo foi esquecendo as fotos,
esquecendo o menino-fantasma e seguiu sua vida. Formou-se, casou,
teve duas filhas e assim seguia sua história.
Em uma manhã de domingo qualquer
acordou com uma bagunça tremenda na sala. Levantou-se e encontrou as
baixinhas com as fotos do casamento espalhadas pela sala. Comentavam
que o pai usava cavanhaque, que estava mais magro, que não tinha
cabelos, brancos, que a mãe que estava linda, que a avó estava
engraçada.
Juntou-se a elas, pegou uma foto a esmo
e gelou ao ver, bem atrás dele e da mulher, aqueles cabelos claros,
aquele sorriso vivo e aqueles malditos olhos bem pretos que olhavam
direto para a câmera.
Direto na têmpora: Jane Says - Jane's Addiction
Direto na têmpora: Jane Says - Jane's Addiction
7 comentários:
Medo.
Era a ideia, >Li ;-)
Valeu, Pelos Ares.
vou mostrar para as meninas ...
Aconteça o que acontecer a culpa não é minha, viu, Informatica simples...
É sim senhor !! Abraço Ralph
* droga de login impessoal (informatica simples- não sei porque o google insiste em me "logar" com isso.
Agora eu vi que é vc, Ralph Pipe... depois mje conta se elas gostaram
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