Não era a primeira vez que ela sentia aquela dor atrás da orelha esquerda. Desde muito nova aquilo a incomodava, mas agora a coisa chegou a um ponto em que o próprio sono era um suplício.
Procurou médicos, curandeiros, acupunturistas, benzedeiras e nada. Perdia peso, perdia a vontade de sair, perdia o gosto pela vida.
Até que um dia a solução surgiu-lhe no meio do banho. Fez um telefonema e preparou-se para os 430 quilômetros que a separavam de Guaxupé.
Viajou no sábado cedo, correndo mais do que deveria, e chegou sem tempo de relembrar a cidade, seguindo direto para a casa do Tio Alfeu.
Tudo na casa parecia igual: os quadros amarelados, os bibelôs de gosto duvidoso, o sofá de couro vermelho e até mesmo o cheiro da Tia Dica era o mesmo.
Tio Alfeu entrou na sala com o velho sorriso no meio dos lábios muito grossos e a conversa continuou lentamente na cozinha, como se o cheiro de café fresco impedisse o tempo de passar.
Almoçou, relembrou, sorriu, mentiu um pouco e antes das três da tarde resolveu partir. Já na porta da casa, tio Alfeu se aproximou, afastou o cabelo do rosto dela e repetiu o ritual vivido milhares de vezes na infância da menina.
Passou a mão atrás da orelha esquerda dela e entregou orgulhoso a moeda que tirara dali.
- Olha só o que eu achei aqui atrás! Pode ficar, viu?
Naquela noite, depois de muito tempo, ela dormiu como um anjo.
PS - Hoje o PC trouxe um pacote de biscoito de polvilho pra mim aqui na agência e se anunciou como meu namorado. É por essas e outras que eu vou começar a cobrar pelo acesso ao pastelzinho.
Direto na têmpora: Sugar world - The Magnetic Fields
2 comentários:
Eu pago, meu lindo.
É o biscoito Globo feito em Inhaúma.
Beijos na Sophia e na Dona Fernanda.
Obrigadão, Paulinho. O biscoito estava uma delícia e durou exatos 43 segundos depois que eu abri na frente do povo da Criação.
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