Eu consegui acertar que Pimentel seria eleito no primeiro turno, que Anastasia seria eleito e que o segundo turno seria entre Dilma e Aécio. Nos três casos, no entanto, as diferenças foram muito menores do que eu imaginava. Ou seja, estou bem em prever o razoavelmente óbvio, mas descalibrado nos números.
Agora o desafio é falar, sem previsões, sobre o cenário atual da nossa política e dar lá os meus pitacos. Afinal, se nada mudar, foi minha última eleição como redator, diretor de criação ou coordenador de campanhas políticas. A partir de agora, sou apenas eleitor, e aí nossa análise precisa ser ainda mais imparcial e clara. Segue o blablabla:
1) O Brasil nunca esteve tão dividido. Somente em 26 de outubro vamos saber se a favor ou contra Dilma e o PT mas, sem sombra de dúvidas, nunca estivemos tão extremamente polarizados.
2) Ainda não dá pra saber quem será nosso próximo presidente ou presidenta, mas Aécio já é um grande vencedor. Saiu como concorrente contra uma candidata que poderia eleger-se no primeiro turno, caiu para terceiro lugar com a chegada de Marina e, quando todos achavam que estava fora da disputa, reagiu de forma impressionante, chega ao segundo turno com uma diferença mínima e é o candidato com maiores possibilidades de vencer o PT desde a primeira eleição de Lula. Ou seja, escapou do esquecimento como força política nacional e já deixou claro que, mesmo se não ganhar, deve ser o candidato do PSDB nas próximas eleições presidenciais.
3) Estamos diante de um cenário teoricamente bom para Minas. Se Dilma vence, tem o aliado Pimentel como Governador do Estado. Se Aécio vence, Pimentel talvez seja o petista mais próximo dele em Minas, como vimos na primeira eleição de Márcio Lacerda. Em qualquer dos casos, Minas deve receber um maior apoio do Governo Federal.
4) Nunca se viu uma eleição tão suja e rasa em seus ataques gratuitos e falta de debate. Virou mesmo torcida de futebol e os bons argumentos se perdem em meio ao gigantesco número de bobagens ditas de todos os lados. Uma pena.
5) Deputados estaduais e federais continuam sendo o grande desafio. Elegemos celebridades, filhos de velhas figuras políticas, racistas, homofóbicos, enfim, o que há de pior e depois não entendemos quando se diz que é difícil governar.
6) Qualquer que seja o novo presidente eu não acredito que haverá reforma política. Não se discutirão o voto facultativo, o financiamento público de campanha, a forma de suplência no senado, a proporcionalidade dos votos para deputados, o fim da reeleição. Duvido que não continue tudo como está nesse quesito.
7) Os próximos 4 anos, salvo alguma mudança radical no cenário mundial, serão difíceis para qualquer governante. É apertar o cinto e aguentar o tranco.
8) Os próximos 20 dias serão de uma agressividade ainda maior entre os candidatos e o Facebook vai ficar praticamente irrespirável.
9) O Brasil está implorando por uma terceira via. Marina? Não sei. Só sei que quem vier tomará pedrada de PT e de PSDB, mas um bom nome pode ajudar a romper a polaridade.
10) Espero que as divergências acabem na eleição e que possamos analisar prós e contras do próximo presidente sem o filtro do "meu lado, seu lado" e sem a cegueira que costuma vir com as paixões. Menos irracionalidade e fé cegas, mais debate e capacidade de se abrir para argumentos. Mas esse é apenas um desejo, uma vontade bobinha. Não há nada no triste horizonte das ofensas, berreiros e chutes na costela que me indique essa possibilidade.