Certa
vez eu participei de uma palestra com um respeitado escritor mineiro
que alertava sobre a necessidade de suar e ralar muito para escrever boa
literatura.
Ao final do discurso ele ainda advertia: desconfie
dos escritores que dizem ser inspirados, pois um livro deve ser fruto
de esforço.
Eu, como alguém que tem uma sabida implicância com
as normas, padrões e fórmulas, tive um pequeno derrame ao ouvir a
sentença. Então quer dizer que a qualidade da obra é medida menos pela
obra em si e mais pelo processo de criação?
Se descobríssemos amanhã que Fernando Pessoa escrevia sem esforço isso
faria dele um merda? Se Picasso pintasse sem sofrer ele seria um
embuste? Se um conto de Guimarães Rosa saísse em uma sentada isso seria
picaretagem?
Achei e ainda acho o argumento do autor mineiro
extremamente reducionista, tolo e claramente usado para defender uma
visão própria e fechada da produção literária.
A mim, como
leitor, importa o resultado. Mil vezes um livro delicioso escrito em um
final de semana do que um fardo pouco criativo que levou anos para ficar
pronto.
Já como autor, também pouco me importa se a ideia vem
pronta ou se preciso extraí-la a fórceps. Basta que ao ler o fruto do
trabalho eu possa dizer a mim mesmo que aquilo ficou bom e que teria
orgulho de mostrar aos outros.
O resto é coisa de quem quer inventar manuais até para se amar.
Direto na têmpora: Time for heroes - The Libertines
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