quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Manuais de amar

Certa vez eu participei de uma palestra com um respeitado escritor mineiro que alertava sobre a necessidade de suar e ralar muito para escrever boa literatura.

Ao final do discurso ele ainda advertia: desconfie dos escritores que dizem ser inspirados, pois um livro deve ser fruto de esforço.

Eu, como alguém que tem uma sabida implicância com as normas, padrões e fórmulas, tive um pequeno derrame ao ouvir a sentença. Então quer dizer que a qualidade da obra é medida menos pela obra em si e mais pelo processo de criação?

Se descobríssemos amanhã que Fernando Pessoa escrevia sem esforço isso faria dele um merda? Se Picasso pintasse sem sofrer ele seria um embuste? Se um conto de Guimarães Rosa saísse em uma sentada isso seria picaretagem?

Achei e ainda acho o argumento do autor mineiro extremamente reducionista, tolo e claramente usado para defender uma visão própria e fechada da produção literária.

A mim, como leitor, importa o resultado. Mil vezes um livro delicioso escrito em um final de semana do que um fardo pouco criativo que levou anos para ficar pronto.

Já como autor, também pouco me importa se a ideia vem pronta ou se preciso extraí-la a fórceps. Basta que ao ler o fruto do trabalho eu possa dizer a mim mesmo que aquilo ficou bom e que teria orgulho de mostrar aos outros.

O resto é coisa de quem quer inventar manuais até para se amar.
 
Direto na têmpora: Time for heroes - The Libertines
 

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