A chuva em Liras de Sintra, quando verte em tempos de frio, encharca os órgãos dos vivos, entranha-se nas paredes das casas, faz brotar o limo como mato nas ladeiras.
As chuvas em Liras de Sintra fazem descer das prateleiras aguardentes escondidas que substituem os bons vinhos de uvas raras e que aquecem o espírito dos que se lançam ao mar e também daqueles que somente esperam.
Os rubros telhados ganham um tom ainda mais vermelho de terra rica e a terra se faz algo nova, como que de outra substância, quando vêm as chuvas a Liras de Sintra.
Ao lado da mesquita aliciada pela fé cristã do povo do lugar, sob uma oliveira deslocada, um passante deixa-se a dois ou três dias, molhado, a receber os grossos pingos na face e o vento em fúria nas costas. Não lhe perguntaram o nome e ele também não o informou. Ninguém o sabe mendigo, estrangeiro, louco e simplesmente o deixam ficar, sem incômodo, auxílio ou interesse. Gela-se o homem sob as chuvas em Liras de Sintra.
Homem de bom coração e melhor curiosidade, Frei Almeida foi o único a aproximar-se do forasteiro, intrigado. Não se sabe o que conversaram, mas sumiram-se os dois sem rastros já na manhã seguinte do encontro. Não se sabe para onde foram ou mesmo se foram juntos e hoje já pouco se fala de Frei Almeida. As chuvas em Liras de Sintra apagam histórias.
Direto na têmpora: Assise - Camille
11 comentários:
Bela homenagem. A cidade existe?
Existe não, tiago, mas a gente inventa.
É o poder da imaginação que te segue desde a infancia. Lembra da guerra entre indios e cowboys com forte apache e tudo o mais ? Quantas vezes eu tive que escutar com paciencia a estratégia que você ia utilizar para a vitoria dos indios ou dos cowboys.
Continuo afirmando, eu que morei além mar que sua Liras de Sintra é uma síntese das aldeias 'd'algures', pois refletem, não só no clima como também nos personagens e cenários toda a alma lusitana.
por isso as pessoas ficam a se indagar se tal lugar existe...
hehehe não me lembro, ndms, mas com certeza deveriam ser a mais estapafúrdias estratégias.
Don Oliva, o pior é que eu sequer conheci ou conheço Portugal. Mas sabe que no meu Incultos tem um conto (fictício) passado na Floresta que também gerou esta confusão? Duas ou três pessoas vieram me contar que conheciam os personagens e que se lembravam do "causo".
Seria pedir muito que você publicasse este conto aqui no Pastelzinho ?
Uai, anônimo, tá publicado aí. Não entendi...
Me refiro ao conto fictício passado na floresta y publicado no seu libro " Incultos "
Pelos termos em espanhol, já vi que o anônimo é ndms risos Pode ser sim, ndms, vou ver se coloco o original.
Muy bien. Gracias y saludos
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